(Domingos Amaral)
Episódio Nº 30
Afonso Henriques reflectiu uns momentos em
silêncio e depois perguntou a Ramiro se os galegos tinham descoberto a relíqui a mas o templário respondeu que encontrara os cadáveres
completamente despojados, perto de umas ruínas junto ao Nabão.
Irritado, o príncipe de Portugal concluiu
apressadamente, que Zhakaria já tinha na sua posse o artefacto, ou então estava
por perto a procurá-lo e por isso matara os galegos.
- Terá encontrado a bruxa? Sohba estará em
Santarém? – perguntou.
Não tendo obtido qualquer resposta,
dirigiu o seu olhar crítico a Ramiro, provocando-o:
- Os mouros são melhores que os templários
a procurar.
Em sua defesa, o bastardo de Paio Soares
alegou que não era certo que Zakaria houvesse encontrado a relíqui a, mas as suas palavras já não tinham peso pois a
incapacidade nas buscas desqualificara-o.
Pai, estou perdido...
Atrapalhado, ainda mais aflito ficou quando
o bispo Bernardo deixou cair um subtil comentário.
Os templários perdem tempo com o que não
devem...
Ramiro corou ao ouvir aquelas palavras,
que foram, porém, rapidamente esquecidas, pois meu tio Ermígio, sem aviso,
lançou uma ideia subversiva.
A sua posição de mordomo-mor permitia-lhe
sugerir soluções inesperadas, mas a ousadia daquela espantou-me.
Se Zhakaria tem a relíqui a e nós as princesas de Córdova podíamos
propor-lhe uma troca.
O bispo Bernardo foi o primeiro a reagir.
Indignado, vociferou que não se podia confiar em infiéis, pensamento que Afonso
Henriques também partilhava.
Não vou comerciar com sarracenos! A relíqui a pertence-me.
Meu tio Ermígio não deu o braço a torcer e
relembrou que ainda não estávamos preparados para uma campanha no sul, nem para
atacar Santarém.
Era mais avisado propor uma troca a Zhakaria.
Se lhe déssemos Fátima e Zaida, ele regressaria a Córdova e ficaríamos com um
inimigo a menos a sul de Coimbra.
- E
que inimigo... rematou.
O enfraquecimento dos mouros era essencial
e, sem Zhakaria, os de Santarém seriam mais fáceis de derrotar.
Contudo, o bispo Bernardo e Afonso
Henriques revelaram-se acérrimos opositores daquele plano, alegando que o
descarado cordovês não só já atacara Coimbra como empalara cristãos!
-
Nisto estamos de acordo – concedeu o príncipe ao bispo Bernardo.
Desaprovada assim a inesperada proposta de
meu tio Ermígio, logo ali o meu melhor amigo decidiu organizar um fossado na
região que ia de Coimbra a Santarém, nomeando Peres Cativo como seu alferes e
comandante da expedição.
O Trava vai ficar furioso – apreciou meu
tio ermígio.
Peres Cativo, embora bastardo era meio - irmão de Fernão Peres de Trava, sendo filho do
mesmo pai. A parecença física entre eles era, deveras, notável. Tinham um porte
semelhante e uma altura idêntica bem como um olhar inteligente e frio.
Só que as desavenças eram agudas e o ódio
intensificara-se com os anos, fruto do ciúme do primogénito com a habilidade
guerreira do ilegítimo.
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