sábado, junho 11, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)



Episódio Nº 30

















Afonso Henriques reflectiu uns momentos em silêncio e depois perguntou a Ramiro se os galegos tinham descoberto a relíquia mas o templário respondeu que encontrara os cadáveres completamente despojados, perto de umas ruínas junto ao Nabão.

Irritado, o príncipe de Portugal concluiu apressadamente, que Zhakaria já tinha na sua posse o artefacto, ou então estava por perto a procurá-lo e por isso matara os galegos.

- Terá encontrado a bruxa? Sohba estará em Santarém? – perguntou.

Não tendo obtido qualquer resposta, dirigiu o seu olhar crítico a Ramiro, provocando-o:

- Os mouros são melhores que os templários a procurar.

Em sua defesa, o bastardo de Paio Soares alegou que não era certo que Zakaria houvesse encontrado a relíquia, mas as suas palavras já não tinham peso pois a incapacidade nas buscas desqualificara-o.

Pai, estou perdido...

Atrapalhado, ainda mais aflito ficou quando o bispo Bernardo deixou cair um subtil comentário.

Os templários perdem tempo com o que não devem...

Ramiro corou ao ouvir aquelas palavras, que foram, porém, rapidamente esquecidas, pois meu tio Ermígio, sem aviso, lançou uma ideia subversiva.

A sua posição de mordomo-mor permitia-lhe sugerir soluções inesperadas, mas a ousadia daquela espantou-me.

Se Zhakaria tem a relíquia e nós as princesas de Córdova podíamos propor-lhe uma troca.

O bispo Bernardo foi o primeiro a reagir. Indignado, vociferou que não se podia confiar em infiéis, pensamento que Afonso Henriques também partilhava.

Não vou comerciar com sarracenos! A relíquia pertence-me.

Meu tio Ermígio não deu o braço a torcer e relembrou que ainda não estávamos preparados para uma campanha no sul, nem para atacar Santarém.

Era mais avisado propor uma troca a Zhakaria. Se lhe déssemos Fátima e Zaida, ele regressaria a Córdova e ficaríamos com um inimigo a menos a sul de Coimbra.

 - E que inimigo... rematou.

O enfraquecimento dos mouros era essencial e, sem Zhakaria, os de Santarém seriam mais fáceis de derrotar.

Contudo, o bispo Bernardo e Afonso Henriques revelaram-se acérrimos opositores daquele plano, alegando que o descarado cordovês não só já atacara Coimbra como empalara cristãos!

 - Nisto estamos de acordo – concedeu o príncipe ao bispo Bernardo.

Desaprovada assim a inesperada proposta de meu tio Ermígio, logo ali o meu melhor amigo decidiu organizar um fossado na região que ia de Coimbra a Santarém, nomeando Peres Cativo como seu alferes e comandante da expedição.

O Trava vai ficar furioso – apreciou meu tio ermígio.

Peres Cativo, embora bastardo era meio -  irmão de Fernão Peres de Trava, sendo filho do mesmo pai. A parecença física entre eles era, deveras, notável. Tinham um porte semelhante e uma altura idêntica bem como um olhar inteligente e frio.

Só que as desavenças eram agudas e o ódio intensificara-se com os anos, fruto do ciúme do primogénito com a habilidade guerreira do ilegítimo.

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