quarta-feira, junho 08, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 27



















- Várias vezes por ano, os dois trocavam curtas mensagens, usando como cúmplice um ferreiro galego, à casa de quem o Velho se começou a dirigir.

Porém, mal virou para a rua lateral à Sé, chocou com a princesa Zaida que saía da biblioteca, muito apressada, e quase deu um trambolhão à sua frente.

Desculpai-me, murmurou o Velho atrapalhado.

A princesa endireitou-se ajeitando as roupas e escondendo algo no regaço. Parecia, claramente, comprometida, como se estivesse a fazer o que não devia.

A pergunta que lhe dirigiu foi mais uma tentativa de dissipar a desconfiança dele do que uma verdadeira preocupação com a sua saúde:

 - Estais bem? – Pareceis doente...

O Velho limitou-se a encolher os ombros:

 - A velhice não tem cura.

A princesa forçou um sorriso e depois seguiu o seu caminho, enquanto o Velho permanecia parado, pois ainda não acreditava no que tinha visto debaixo da túnica da princesa.

Ela bem tentara esconder um objecto, mas ele tinha bom olho, e o que ela levava era de grande valor. Decidiu segui-la, talvez tivesse um momento de sorte.

Agitada, Zaida, foi à casa onde vivia, entrou, mas poço depois voltou a sair e regressou à biblioteca da Sé, sem nada no regaço.

Durante algum tempo o Velho esperou mas ela não reapareceu.

Então, deu meia volta e dirigiu-se à casa das princesas. Se conseguisse roubar aquele objecto, certamente que o Trava iria ficar muito contente.

Fora por essas e por outras, que Fernão Peres lhe destinara uma missão tão difícil. Ele era o homem necessário, o espião indicado.

Conhecia Soure e a região a sul da povoação pois no passado já fizera parte da guarnição do castelo, na época dos cercos realizados a Coimbra pelo califa almorávida Ali Yusuf.

Desde essa longínqua data que era um fiel soldado de Fernão Peres de Trava acompanhando as andanças do amo. Por isso, aceitara aquele repto, em Viseu, na Páscoa de há seis anos, quando o nobre galego lhe explicou que uma nova Ordem religiosa iria reconstruir o castelo de Soure e procurar uma relíquia sagrada.

Sois os meus olhos e os meus ouvidos – dissera o Trava.

Apresentando-se como um combatente caído em desgraça, o Velho alistara-se no primeiro contingente de monges guerreiros da Ordem do Templo, onde já estavam o Rato e o Peida Gorda e aos quais se somara, dias depois, o jovem Ramiro, bastardo de Paio Soares.

O grupo havia iniciado a recuperação de Soure e, durante seis verões e seis invernos, o Velho permanecera por lá.

A sinistra mulher de negro eclipsara-se e, portanto, o Velho, limitara-se a fazer o seu trabalho secreto para o trava, informando-o sobre o que se passava na região.


Apenas por uma vez, a bruxa Sohba, por quem nutria um forte ódio, pois um dia ela atirara-lhe uma bola de fogo, quase o cegando. Desde essa data jurara matá-la mal tivesse uma oportunidade, só que esta não surgira.

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