(continuação)
Se a religião é então
subproduto de outra coisa, o que é essa outra coisa?
Qual é o equi valente ao hábito da traça de navegar tendo como
referência bússolas de luz celeste?
Qual é a característica
primitiva vantajosa que por vezes falha o alvo dando origem à religião?
Avançarei aqui uma sugestão a título exemplificativo, mas
devo realçar que é apenas um exemplo do tipo de coisa a que me refiro, e
apontarei sugestões paralelas avançadas por outros.
Mais importante do
que avançar uma resposta é a necessidade de colocar correctamente a pergunta.
A minha hipótese
concreta centra-se nas crianças. Mais do que qualquer outra espécie, nós
sobrevivemos através da experiência acumulada pelas gerações anteriores, e essa
experiência precisa de ser transmitida às crianças, para sua protecção e
bem-estar.
Na teoria, as
crianças poderão aprender através da experiência pessoal, a não se aproximarem
de um penhasco, a não comerem bagas vermelhas desconhecidas, a não nadarem em
águas infestadas de crocodilos.
Sem dúvida que sim, mas aquelas crianças cujo cérebro contiver a seguinte regra prática: acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te disserem. Obedece aos teus pais, obedece aos chefes da tribo, sobretudo quando falarem para ti numa voz grave e ameaçadora.
Confia nos mais velhos sem contestares. Essas crianças dotadas com um cérebro “formatizado” com essas regras, terão uma vantagem de sobrevivência relativamente às outras mas, tal como no caso das traças, pode dar mau resultado…
Sem dúvida que sim, mas aquelas crianças cujo cérebro contiver a seguinte regra prática: acredita sem hesitações em tudo o que os adultos te disserem. Obedece aos teus pais, obedece aos chefes da tribo, sobretudo quando falarem para ti numa voz grave e ameaçadora.
Confia nos mais velhos sem contestares. Essas crianças dotadas com um cérebro “formatizado” com essas regras, terão uma vantagem de sobrevivência relativamente às outras mas, tal como no caso das traças, pode dar mau resultado…
Nunca esqueci um
sermão terrível que ouvi na capela da minha escola, quando era pequeno.
Terrível, visto de agora, porque, na altura, o meu cérebro de criança aceitou-o
dentro do espírito pretendido pelo pregador. Ele contou-nos, então, a história
de um pelotão de soldados que treinava junto da linha do Caminho-de-Ferro e,
num momento crítico, o sargento encarregado do treino distraiu-se e não deu a
voz de “alto”. Os soldados, de tão bem treinados a obedecer às ordens sem as
contestar, continuaram a marcha de encontro ao comboio que se aproximava.
O pregador contava
esta história para que nós admirássemos e imitássemos a obediência servil e
incondicional dos soldados a uma ordem, por muito absurda que ela fosse, vinda
de uma figura de autoridade.
Este sermão da minha
infância marcou-me profundamente e por isso eu conto-o aqui porque
o «eu» da minha infância não sabe se teria coragem de marchar contra o comboio
e cumprir assim o seu dever. Mas talvez esta mensagem fosse mais de cariz
militar, ao estilo da «Carga da Brigada Ligeira» do que religiosa.
Consultando a
história, as nações cujos soldados de infantaria seguem as ordens que recebem
ganham mais guerras do que aquelas cujos soldados agem por sua livre iniciativa.
Do ponto de vista das
nações, esta continua a ser uma boa regra básica ainda que por vezes conduza a
catástrofes pessoais. Os soldados são treinados para se tornarem o mais
parecidos como autómatos ou computadores.
(continua)
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