À porta do Centro de Saúde, um pequeno grupo de utentes organizava-se para a marcação da consulta "à vaga". A maioria já se conhece. Afinal todos são já bem experimentados nesta forma bem própria de utilização da consulta.
Aliás, o Director do Centro de Saúde até mandou instalar uns banqui nhos de jardim no local, para tornar a espera
mais atractiva.
A Maria do Céu vai à consulta do "Parlamento", a Dona Gertrudes vai à
consulta da "Monopausa" e a Rita é que as corrige informando-as que
aquela consulta chama-se de Planeamento Familiar.
Uma tem um "biombo" no "úbero" e leva os resultados duma
"fotografia", outra está preocupada com comichões na
"serventia" do marido, até porque ele, havia poucos dias, tinha já
sido consultado pelo médico por estar com os "alforges" todos
inflamados. Alguém logo ali diagnosticou um problema na "aprosta" do
marido.
Mais à distância desta conversa, um grupo de senhoras falavam dos métodos
contracept ivos e, uma delas, perempt ória, afirmava que nunca aceitaria porem-lhe uma
"fateixa" dentro da barriga!
Uma outra discordava, e lá lhe foi dizendo que, por causa disso, é que teve
tantos filhos, felizmente todos de parto normal, só o último foi de
"açoreana", mas aquele que lhe dava mais problemas era o mais velho
que já era "toxico-correspondente"!
Noutro local, um grupo de homens mais idoso ia falando da relação entre o
"castrol" e a "atenção".
Às tantas um deles começa a explicação cuidada dum acidente que tivera. Por
isso é que tinha a vacina contra o "tecto" em dia, mas o acidente
estragou-lhe a "tibiotísica" e causou-lhe uma hérnia
"fiscal", pelo que tinha ido fazer uma "fotocópia" e um
"traque".
Outro referiu que nunca teve problemas de ossos, o seu problema era uma grande
"espirrogueira na peitogueira".
Uma senhora, atraída pela conversa, queixava-se de entupimento no
"curso" com dores "alucinantes" quando se "abaixava".
Além disso cobria-se de suores e "gómitos", ficava
"almariada" e tudo acabava com uma forte "encacheca",
ficando cerca de 3 dias com cara de "caveira misteriosa". Alguém lhe
falou nuns supositórios que a poderiam ajudar mas ela já os conhecia, aparentemente
tinham sido muito difíceis de engolir, pelo que o melhor ainda era o
"clistério".
Finalmente, uma outra senhora queixava-se da "úrsula" no
"estambo", pelo que vinha mostrar o resultado duma
"endocuspia" e ainda algumas análises especiais, como a Proteína C
"Reaccionária".
8h30m da manhã. Ainda havia muito para conversar mas a Inês, jovem funcionária
administrativa do Centro de Saúde, obviamente tarefeira, acaba de chegar. Os
funcionários administrativos não podem chegar atrasados, caso contrário, confundir-se-
-iam com os doutores.
- Quem é o primeiro, se faz favor? Ora diga lá o seu nome?
- Josefina Trindade.
- Idade?
- 67 anos.
- Estado?
- Constipada, muito constipada!
9h00m da manhã. Aparece a enfermeira Freitas que grita para a pequena multidão
barulhenta que cerca a Inês:
- Quem está para medir as tensões? É você? Então entre e diga-me qual é o seu
problema?
- Sabe, senhora enfermeira, o meu problema é ter uma doença
"arrendatária" que "arrendei" do meu pai e já me levou uma
vez aos cuidados "utensílios" do hospital. Afecta-me as "cruzes
renais" e por isso dá-me muita "humidade à volta do coração".
Aliás, o doutor pediu-me uma "pilografia" e um "aerograma"
que aqui trago e recomendou-me beber
pouca água.
Finalmente, chega o médico, que logo dá início às consultas:
- Então de que se queixa?
- De uma angina de peito, senhor doutor. Tudo começou há uma semana quando fui
às urgências. O médico disse-me que era uma angina na garganta, mas a angina
começou a descer e agora apanha-me o peito todo!
Aos poucos, os utentes iam entrando e saindo, com melhor ou pior cara.
Alguns perguntavam à Inês onde era o "pechiché da retrosaria"
para pagarem a “taxa moderadora”.
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