À direita, vê-se o coberto da capelinha das aparições. |
O Negócio da Fé
Mil e
Eu
era criança, jovem de 11 ou 12 anos, e também ali andei, há mais de 60 anos, de
velinha na mão, na procissão do Adeus à Virgem, como mostra a imagem.
Lembro-me
de como então, eu e alguns dos meus colegas, alunos do Colégio de Jesuítas São
João de Brito, nos divertimos nesse passeio à luz da vela, cantando, à socapa
da vigilância dos padres, aquela velha canção: “... a caminho da Califórnia vai
um...” o resto da letra os meus amigos também sabem pelo que me dispenso de
continuar.
Os
padres andavam numa fona, tentando descobrir os “cantores” profanos, porque
esta coisa do mistério da fé não entra facilmente na cabeça das criancinhas, a
não ser coladas com cuspo.
Comigo,
pelo menos, o vírus não entrou, talvez por troca com o da tuberculose pulmonar
que apanhei pelos meus 8 ou 9 anos de idade, por contágio, na paria de Santo
Amaro de Oeiras.
Enfim...
é tudo o que tem que ser... Uns nascem crentes por natureza, parece até que
começam a rezar na barriga da mãe mas, segundo dizem as estatísticas, no mundo
ocidental, a religiosidade está em declínio ao que não é estranho, de certo, o
uso cada vez maior da razão na instrução que é transmitida às crianças nas escolas.
Fátima,
está nas minhas memórias de criança, à época, fenómeno relativamente recente e
a Igreja Católica de Roma nunca irá perder esta referência ligada à história
romanceada das três criancinhas, pastoras de cabras, a quem Nossa Senhora terá aparecido
em cima de uma azinheira, para transmitir a mensagem da fé, talvez por não ter
encontrado ninguém mais credível para o fazer.
A
Senhora, mãe de Jesus, de resto, de há muitos anos a esta parte, que anda a
aparecer às pessoas, um pouco por todo o mundo católico, para reavivar a fé...
Essas
aparições têm sido muito bem acolhidas pela Igreja Oficial que depois de
algumas breves hesitações, as aceita e celebriza.
A
fé e o negócio misturam-se, a Igreja alimenta-se dele. A quantidade de ouro que
sai do Santuário de Fátima directamente para Roma nunca será conhecida com
rigor e divulgado mas, se ainda fosse aplicado em obras sociais daquela região,
seria um bom destino. Mas tenho muitas dúvidas que o seja.
Aquela
Igreja monumental que entretanto construíram e faz agora sombra à capelinha das
aparições, é uma nota da verdadeira vocação dos bispos: impressionar os crentes
com a grandiosidade da fé, que começou com a Igreja de S. Pedro, em Roma, que
levou o Papa a vender bulas para arranjar dinheiro para a pagar e à rupt ura, por causa disso, da própria igreja em
anglicanismo e catolicismo.
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