(Domingos Amaral)
Episódio Nº 94
Nesse momento, ouviram de
surpresa uma voz, proveniente de um dos obscuros cantos daquele edifício de
madeira.
Não foi o Velho, foi a minha
irmã.
Os dois templários
levantaram-se num ápice, ainda nus e muito atrapalhados, enquanto Fátima saía
do seu esconderijo e se aproximava com um sorriso de gozo nos lábios por os ver
assim, frágeis, envergonhados e desamparados.
Contudo, proferiu uma frase
tranqui lizadora, tentando aliviá-los
do desconforto:
- Sou de Córdova, homens nus
na piscina era o que por lá havia mais! E o meu bisavô, o poeta Al-Mutamid,
também tinha desses gostos.
Explicou que entrara sem
fazer barulho e sem notar que ali estava alguém, mas ao vê-los decidira não se
revelar, o seu único desejo era ferrar no sono, pois não o podia fazer em casa.
O Mem está lá a foder a
minha irmã...
Os dois templários
compuseram-se à pressa, enquanto se espantavam com a revelação seguinte de
Fátima. Ao contrário de Zaida, adorava vir ao local onde a mãe morrera.
Durante vários anos, a irmã
guardara-o numa arca mas o Velho assaltara a casa delas há tempos, apoderando-se
da misteriosa arma de Paio Soares.
Haveis visto as inscrições
gravadas no cabo? Perguntou Ramiro.
A esperta Fátima não lhe ia
revelar tais segredos. Olhou-o com enorme desprezo e depois murmurou:
- Se a Ordem sabe disto...
É a palavra de uma moura
contra a de dois templários!
- Correm muitos rumores sobre vós, acho que
têm mais a perder do que eu. Que me podeis fazer? – Já estou presa!
Ramiro e Rato não estavam em
condições de suportar uma acusação tão clara, se ela a fizesse em público, por
isso calaram-se.
A princesa moura
observou-os, o seu espírito a fervilhar de curiosidade sobre o que
verdadeiramente interessava.
Os templários vão procurar a
relíqui a?
Ramiro alegou que Afonso
Henriques não os autorizara. Cristãos e muçulmanos iriam fazer uma pausa nos
confrontos, pois Zakaria também não estava em condições de atacar Coimbra.
- Isso é que é uma pena... –
comentou Fátima.
Os templários sabiam que ela
era apaixonada por Abu Kakaria. Recordando – se que este fora nomeado wali de
Santarém pelo califa almorávida de Marraquexe, Ramiro espicaçou-a:
- Zakaria vendeu-se ao califa! Se um dia vier,
não será para vos salvar, mas sim para vos matar.
Aquela cortante previsão
enfureceu Fátima que enfrentou os templários, os olhos chispando de fúria.
- Cuidado, cristão, posso ir
daqui à Sé e denunciar-vos ao bispo.
Ramiro acanhou-se e foi o
Rato que a tentou pacificar.
- Que quereis em troca do
vosso silêncio? Que procuremos a relíqui a
para vós?
Obviamente, a oferta dos
seus préstimos à princesa, evitando que ela os denunciasse, não passava de uma
oportuna trapassa.
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