terça-feira, outubro 11, 2016

Assim Nasceu Portugal
(Domingos Amaral)


Episódio Nº 94




















Nesse momento, ouviram de surpresa uma voz, proveniente de um dos obscuros cantos daquele edifício de madeira.

Não foi o Velho, foi a minha irmã.

Os dois templários levantaram-se num ápice, ainda nus e muito atrapalhados, enquanto Fátima saía do seu esconderijo e se aproximava com um sorriso de gozo nos lábios por os ver assim, frágeis, envergonhados e desamparados.

Contudo, proferiu uma frase tranquilizadora, tentando aliviá-los do desconforto:

- Sou de Córdova, homens nus na piscina era o que por lá havia mais! E o meu bisavô, o poeta Al-Mutamid, também tinha desses gostos.

Explicou que entrara sem fazer barulho e sem notar que ali estava alguém, mas ao vê-los decidira não se revelar, o seu único desejo era ferrar no sono, pois não o podia fazer em casa.

O Mem está lá a foder a minha irmã...

Os dois templários compuseram-se à pressa, enquanto se espantavam com a revelação seguinte de Fátima. Ao contrário de Zaida, adorava vir ao local onde a mãe morrera.

Durante vários anos, a irmã guardara-o numa arca mas o Velho assaltara a casa delas há tempos, apoderando-se da misteriosa arma de Paio Soares.

Haveis visto as inscrições gravadas no cabo? Perguntou Ramiro.

A esperta Fátima não lhe ia revelar tais segredos. Olhou-o com enorme desprezo e depois murmurou:

 - Se a Ordem sabe disto...

É a palavra de uma moura contra a de dois templários!

 - Correm muitos rumores sobre vós, acho que têm mais a perder do que eu. Que me podeis fazer? – Já estou presa!

Ramiro e Rato não estavam em condições de suportar uma acusação tão clara, se ela a fizesse em público, por isso calaram-se.

A princesa moura observou-os, o seu espírito a fervilhar de curiosidade sobre o que verdadeiramente interessava.

Os templários vão procurar a relíquia?

Ramiro alegou que Afonso Henriques não os autorizara. Cristãos e muçulmanos iriam fazer uma pausa nos confrontos, pois Zakaria também não estava em condições de atacar Coimbra.

- Isso é que é uma pena... – comentou Fátima.

Os templários sabiam que ela era apaixonada por Abu Kakaria. Recordando – se que este fora nomeado wali de Santarém pelo califa almorávida de Marraquexe, Ramiro espicaçou-a:

 - Zakaria vendeu-se ao califa! Se um dia vier, não será para vos salvar, mas sim para vos matar.

Aquela cortante previsão enfureceu Fátima que enfrentou os templários, os olhos chispando de fúria.

- Cuidado, cristão, posso ir daqui à Sé e denunciar-vos ao bispo.

Ramiro acanhou-se e foi o Rato que a tentou pacificar.

- Que quereis em troca do vosso silêncio? Que procuremos a relíquia para vós?


Obviamente, a oferta dos seus préstimos à princesa, evitando que ela os denunciasse, não passava de uma oportuna trapassa. 

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