segunda-feira, outubro 10, 2016

AMÁLIA RODRIGUES - O BARCO NEGRO (letra de David Mourão Ferreira)


Foi este fado, cantado no filme "Amantes do Tejo" (1955), que mais contribuiu para lançar a carreira internacional de Amália. No ano seguinte estava a cantá-lo no Olympia de Paris e a partir de então por todo o mundo, fascinando com o talento da sua voz e qualidade das suas interpretações, seduzindo numa língua que muito poucos entendiam, acompanhada apenas por duas simples guitarras. Do Japão às Américas e a quase todos os países da Europa, especialmente os de leste, Rússia, Roménia, Hungria, etc... onde era muito fácil encontrar pessoas que se comoviam ao escutá-la.

Este fado foi mesmo feito para a Amália... para a sua incomparável voz e maneira de sentir, voz que vinha do esófago, - coisa que ela nem sabia o que era -  como um dia lhe disse Mário Martins, da editora Valentim de Carvalho, o homem que hoje, nos seus 82 anos, mais sobre Amália Rodrigues e que privou com ela pessoalmente no exercício das suas funções, testemunhando, como entendido, a qualidade da sua voz que ficará para a eternidade como Património Cultural dos portugueses, mas também a sua inteligência e sensibilidade de mulher, que tendo nascido num bairro pobre de Lisboa e estudado apenas até à 3º classe, como era hábito nesse tempo e naquele meio, se afirmou no país e no mundo pelas suas extraordinárias capacidades.

Amália está no Panteão Nacional como reconhecimento pelo que fez pelo país em termos de divulgação. Se somos um povo sentimental jamais alguém o terá feito sentir como ela o fez através dos seus fados e da sua voz. Deu-se a conhecer como fadista apenas porque nasceu num modesto bairro de Lisboa,  como ela própria o reconheceu, mas na realidade, Amália foi uma cantora do mundo. A qualidade da sua voz não se continha dentro de qualquer fronteira nem de qualquer tipo de canção. Fechem os olhos... ouçam-na neste fado e... comovam-se.

Dezanove anos depois, nasci num bairro em Lisboa, ao lado daquele onde ela nasceu, e as suas canções que passavam na rádio com muita frequência, fizeram-me companhia durante uma parte da minha vida e de todos os lisboetas da minha geração a quem ela deu expressão, enriqueceu e foi familiar, fazendo  parte das nossas vidas.

            


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