(Domingos Amaral)
Episódio Nº 93
O que o Rato queria saber era o esconderijo da relí
- Não sou estúpida, uranista.
Disse-lhes que se fossem
embora, pois desejava voltar a dormir. Só tenho paz e sossego junto dos meus
fantasmas. A minha mãe e o “assassin” continuam por cá
Com um arrepio na espinha, o
Rato dirigiu-se para a saída do casão e Ramiro seguiu-o de cabeça baixa. Já na
rua, a culpa que o atormentava voltou a explodir, quando se flagelou:
- Deitei tudo a perder!
Apesar da hora nona já ir
lançada, declarou ao Rato que iria à Sé confessar-se ao bispo Bernardo.
- Que dizeis? – perguntou o
colega espantado.
Ramiro abriu os braços,
desesperado:
- Tenho de expiar os meus pecados!
Como um louco desatou a
correr, deixando o Rato confundido.
Se Ramiro contasse ao bispo
aquelas ternuras masculinas, aí é que se perdia, dificilmente o prelado lhe
perdoaria pecados tão graves!
Alarmado, perseguiu o amante
pelas ruelas e à porta da Sé ainda tentou demovê-lo daquela abrupt a e tonta ideia. Mas Ramiro, sempre de olhar
esgazeado, empurrou-o como se dele sentisse asco, gritando:
- Sois o demónio, afastai-vos de mim!
Naquele dia, o Rato
convenceu-se de que Ramiro enlouquecera. E tinha razão. Contudo, as duvidosas
acções do bastardo de Paio Soares não eram apenas justificadas pelas suas
convulsões íntimas, havia algo mais.
Algo que era superior às
perdições individuais dos humanos e que era muito mais vasto e perigoso para o
reino de Portugal.
Entusiasmados com a
anunciada guerra contra o Trava e Afonso VII, nunca nos passou pela cabeça que
era também nestes tortuosos momentos privados, insignificantes e videirinhos,
que se jogava o futuro do nosso príncipe e de todos nós.
Como me disse uma vez meu
pai, Egas Moniz:
- Lourenço Viegas, o mundo é
feito de pessoas e são decisões delas que o fazem avançar, por mais pequenas
que sejam. Meu pai tinha razão, como quase sempre, mas naqueles dias nós só
pensávamos na guerra que ia começar!
Tui, Março de 1134
O ataque a Tui foi a
operação mais mal sucedida que recordo em muitos anos de batalhas
portucalenses.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home