O que há, verdadeiramente de novo, na atribuição deste Prémio Nobel da Literatura, foi a sua entrega a um letrista de canções e não a um escritor de romances ou de poesia, como era tradicional e a reacção não foi agradável para o Júri.
A avaliação das obras literárias depende de quem as faz e de
quando são feitas e poucas são consensuais desde o primeiro momento.
No que a nós mais directamente diz respeito, e estamos a pensar em José Saramago ,
também ele Prémio Nobel da literatura em 1998, basta lembrar a reacção de um
Secretário de Estado da Cultura, de seu nome António Sousa Lara, ao seu livro
Evangelho Segundo Jesus Cristo, obra belíssima que tive o gosto de ler, e que ele riscou da lista
de concorrentes ao Prémio Literário Europeu, considerando-o contra o património
religioso português, o que foi, nitidamente, um acto de censura.
Preconceitos religiosos e políticos interferem sempre na avaliação da qualidade artística das obras para além da crítica dos especialistas.
Tão pouco o volume das
vendas são garantia de qualidade pois o público que compra é sensível ao apelo
da publicidade, à mediatização dos temas ou dos próprios escritores, como
sabemos.
Apreciar uma obra
literária apenas pela sua qualidade artística está reservada aos especialistas
que valorizam a qualidade dos textos pela riqueza do léxico utilizado, construção gramatical das frases mas, fundamentalmente, pela beleza e harmonia das palavras e o
impacto que elas nos provocam que sobreleva tudo o resto.
José Saramago “permitiu-se”
escrever um livro, salvo erro, o Memorial do Convento, que não tinha pontuação
sem que tal, eu, como leitor, tenha sentido grande diferença...
O enredo, ou seja a
história que nos é contada é o mais facilmente apreendido pelos leitores anónimos.
A qualidade vem depois.
Eu li quase toda a obra
de Jorge Amado que, de resto, transpus para este Blog em episódios, porque sempre
gostamos de levar até aos outros aqui lo
que nos dá prazer, e é por isso que recomendamos aos nossos amigos, uma música, um
livro ou um filme, etc... em tempos, em Moçambique, custou-me um disco que nunca esquecerei.
Considero Jorge Amado o
melhor contador de histórias da língua portuguesa e José Saramago o melhor
escritor de livros, sendo que uma coisa e outra são o mesmo... e Jorge Amado nunca
recebeu o Prémio Nobel.
Que me desculpe o Bob Dylan...
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