Técnico Com o FMI
"Hotel Tivoli? Daqui , ao aeroporto, é um tiro... Então o amigo é o
camone que vem mandar nisto? A gente bem precisa. Uma cambada de gatunos, sabe?
E não é só estes que caíram agora. É tudo igual, querem é tacho. Tá a ver o que
é? Tacho, pilim, dólares.
Ainda bem que
vossemecê vem cá dizer alto e pára o baile... O nome da ponte? Vasco da Gama. A
gente chega ao outro lado, vira à direita, outra ponte, e estamos no hotel.
Mas, como eu tava a
dizer, isto precisa é de um gajo com pulso. Já tivemos um FMI, sabe? Chamava-se
Salazar. Nessa altura não era esta pouca-vergonha, todos a mamar. E havia
respeito... Ouvi na rádio que amanhã o amigo já está no Ministério a bombar. Se
chega cedo, arrisca-se a não encontrar ninguém. É uma corja que não quer fazer
nenhum.
Se fosse comigo era
tudo prà rua. Gente nova é qu'a gente precisa. O meu filho, por exemplo, não é
por ser meu filho, mas ele andou em Relações Internacionais
e eu gostava de o encaixar. A si dava-lhe um jeitaço, ele sabe inglês e tudo,
passa os dias a ver filmes. A minha mais velha também precisa de emprego, tirou
Psicologia, mas vou ser sincero consigo: em Junho ela tem as férias marcadas em Punta Cana , com o
namorado. Se me deixar o contacto depois ela fala consigo, ai fala, fala, que
sou eu que lhe pago as prestações do carro...
Bom, cá estamos. Um
tirinho, como lhe disse. O quê, factura? Oh diabo, esgotaram-se-me há bocadinho"
*Ferreira Fernandes
* Jornalista do DN, que leio diariamente, e que neste texto, a brincar, diz muito sobre a natureza dos portugueses... ou de muitos deles!
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