(Domingos Amaral)
Episódio Nº 107
Depois das fortes derrotas
de Celmes e de Tui, era difícil acreditar naquele brilhante futuro mas as três
mulheres não perderam tempo a discuti-lo, preferindo conversar sobre questões
mais relaxantes.
Até os gigantes têm um ponto
fraco – contou Elvira.
As duas irmãs galegas não
sabiam qual a falha de Afonso Henriques e, portanto, surpreenderam-se quando a
normanda a exibiu:
- O Príncipe de Portugal não
suporta que a mulher de quem gosta se encante por outro homem. Fica louco, é
capaz de matar.
Fingido-se perplexa, a minha
cunhada bateu as pestanas e depois de uma pausa crítica, com a qual Elvira
mostrou que topava perfeitamente a dissimulação dela, a normanda disse:
- Desde que me dei ao príncipe, nunca mais me
dei a homem algum nem me vou dar.
Olhando fortemente para
Chamoa declarou:
- Cuidado com os homens, com
todos!
A minha cunhada sorriu-lhe,
embaraçada, acrescentando que desejava ir ter com Afonso Henriques, o que só
viria a acontecer dois meses depois, pois o impiedoso inverno impediu-nos de
descermos a Coimbra.
IV – O Despertar dos Traidores
1134
Rio Lis, Junho de 1134
O fossado portucalense
ultrapassara os limites cristãos das leis da guerra e a extrema violência dos
estragos provocados nas aldeias mouras indignou meu tio Ermígio Moniz.
Ele também fora um guerreiro
no passado, mas o cargo de mordomo, a idade e sobretudo a experiencia haviam-no
convencido de que a brutalidade não era a melhor das políticas.
- Tanta destruição será
vingada um dia – avisou.
Afonso Henriques respeitava
muito a opinião do mordomo, mas dentro da sua alma não havia ainda descanso.
Frustrado com o fiasco de Tui e humilhado pela destruição do castelo de Celmes,
o príncipe de Portugal partira para o Sul numa ânsia descontrolada e na pequena
povoação de Pombal, um pouco a norte do local onde estavam acampados agora, o
fossado portucalense atingira o auge.
A aldeia mourisca fora
saqueada e incendiada. Mas, pior do que isso, Afonso Henriques dera ordens a
Peres Cativo, seu alferes, e a Paio Guterres, para não pouparem os homens e
cinco dezenas haviam sido degolados, sendo depois empalados em lanças,
espetadas no chão empapadas de sangue, coisa que meu tio não considerava
aceitável.
- Poupei as mulheres e as
crianças – alegou Afonso Henriques, como se essa decisão o absolvesse dos
restantes exageros.
- Para conqui star os territórios não podemos nem devemos,
dizimar as populações! – exclamou meu tio.
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