domingo, janeiro 08, 2017

Visita Sócrates na cadeia... sempre fiel aos seus amigos!
Faleceu Mário Soares














É impossível para mim, 15 anos mais novo, tal como ele lisboeta, com um irmão, já falecido, que foi aluno do Colégio Moderno, fundado pelo pedagogo João Lopes Soares, seu pai, e mais tarde dirigido pela mulher, Maria Barroso, ficar indiferente à sua morte, mesmo que há vários dias estivesse já em estado de coma o que demonstra a sua fibra de combatente, até com a própria morte.
O meu voto foi sempre seu pela simples razão de que ele era “fixe” e demonstrou-o muito cedo, quando ainda Salazar mandava no país e não era fácil ser seu opositor, e eu sei-o muito bem porque vivi esses tempos ainda como estudante na Rua da Escola Politécnica em Lisboa.
Foi sempre o meu político preferido mesmo quando disse: - “Basta”...para voltar, logo de seguida, a candidatar-se. Estava-lhe na “massa do sangue”...
A sua coragem e irreverência foram sempre bem evidentes, especialmente quando perdia e “corria” a dar os parabéns ao adversário dando provas de que o seu amor à liberdade e democracia eram genuínos.
Lembro-me bem quando foi a Dar-es-Salan negociar a independência de Moçambique com Samora Machel.
Eu estava na cidade da Beira, em Moçambique e a guerra estava completamente perdida pelo que já nada havia a negociar.
Já só se saía da cidade em segurança por avião. As estradas de Manica e Sofala, para a Rodésia, estava nas mãos do exército de Samora que já tinha chegado a Tete, à barragem de Cabora Bassa,  mas no entanto, nunca hostilizou quem por lá passava, e a do Sul, para Lourenço Marques, também já não era segura.
Falo com conhecimento de causa porque fui interceptado por eles quando caçava e apenas me mandaram regressar a casa sem, sequer, ficarem com as armas.
A guerra tinha sido perdida e os soldados portugueses confraternizavam com os da Frelimo sinal de que a política colonial, com a Revolução do 25 de Abril, tinha terminado.
Mário Soares, na qualidade de ministro dos Negócios Estrangeiros no seu encontro com Samora procurou adiar por mais uns meses a concessão da independência para dar mais tempo para os colonos portugueses regressarem à pátria mas não conseguiu.
Samora disse-lhe: - “Se não concordarem com esta data a guerra continua e nós regressamos ao mato para combater”.
Mário Soares não tinha nenhuma força de negociação e é muito injusto, para além de errado, que algumas pessoas atingidas pelo fenómeno inevitável da descolonização portuguesa, o tenham acusado de responsável pelo que aconteceu.
Ele e Almeida Santos, que tinha a sua vida em Lourenço Marques, foram perfeitamente impotentes para alterar fosse o que fosse no curso dos acontecimentos que levariam mais tarde Samora a afirmar, que não foi Portugal que deu a independência a Moçambique mas sim, ele, que ganhou a guerra, o que é perfeitamente verdade naquele território, já que em Angola, em termos militares, a situação não era bem a mesma dado que havia várias forças em presença com as quais o país jogava.
Mário Soares amava a liberdade e a democracia. Para ele, ser político, era ganhar e perder, e esta seria a sua principal e genuína característica que me levariam sempre a dar-lhe o meu voto.

Site Meter