Podemos não ter petróleo, gás, ouro, diamantes, em quantidades que fazem o conforto financeiro dos países e, em alguns casos, dão lugar à corrupção e esbanjamento como se essas riquezas fossem pertença apenas de meia dúzia de cidadãos, os políticos que estão no poder e, de certo, mais patriotas que os restantes... só pode ser!
Digamos, portanto, que Portugal, não tendo nenhuma
dessas matérias-primas que fazem as delícias de que quem as possui, está livre
e despreocupado para poder gozar a parte saudável da vida apreciando o que ela
tem de melhor, tal como um almoço de peixinho grelhado, num restaurante à beira-mar,
olhando o sol a espelhar-se no estuário do Tejo num ambiente de paz, ali para os lados de Algés.
Foi exactamente isso que eu fiz ontem, na companhia de
dez agradáveis velhotes, como eu, que em 1960, já lá vão, portanto, 57 anos, se
encontraram, pela 1ª vez, jovens e cheios de ambição no futuro, ali ao Príncipe
Real, em Lisboa, na Rua da Escola Politécnica, que à porta do gordo Mister
Cork, grande “amigo” dos choferes de táxi que lhe levavam os turistas ingleses
a quem ele vendia artefactos regionais de cortiça e se desfazia em mesuras, se
abria à direita, para o Largo e Jardim do Príncipe Real, onde se localizava um
Palácio que era o do “nosso” Instituto Superior Colonial.
Eu morava praticamente em frente, num quarto alugado, que dava também para o Jardim do Príncipe Real que aproveitava para estudar e observar as manobras do chuleco, de calcas apertadas à cowboy, que punha os cornos no Mister Cork cuja mulher muito mais nova, "boa" e muito puta, despertava cobiça e para quem, era evidente, o "Cork" com tanta banha e já sem ser novo, mais treinado nas mesuras aos clientes, não devia dar uma para caixa.
Ficar-se-ia pelo prazer da vista e pagava para isso... Enfim, recordações do passado em que estes pequenos escândalos da nossa rua, ainda eram notados, não obstante a descrição dos comportamentos que só não resistiam a uma observação mais atenta e maliciosa.
Eu morava praticamente em frente, num quarto alugado, que dava também para o Jardim do Príncipe Real que aproveitava para estudar e observar as manobras do chuleco, de calcas apertadas à cowboy, que punha os cornos no Mister Cork cuja mulher muito mais nova, "boa" e muito puta, despertava cobiça e para quem, era evidente, o "Cork" com tanta banha e já sem ser novo, mais treinado nas mesuras aos clientes, não devia dar uma para caixa.
Ficar-se-ia pelo prazer da vista e pagava para isso... Enfim, recordações do passado em que estes pequenos escândalos da nossa rua, ainda eram notados, não obstante a descrição dos comportamentos que só não resistiam a uma observação mais atenta e maliciosa.
A companhia, ao almoço, era a apropriada às saudades
desse passado já longínquo e ao qual não resistiram muitos desses jovens,
nossos colegas, que então se apresentaram para o início das aulas no Ano
Lectivo de 1959/60.
Sobrámos nós para este almoço... Poderiam ter sido
eles, mas a vida determinou que o privilégio de saborear aquele belo peixinho
grelhado, de seu nome “pregado”, fosse só nosso.
Foi assim porque a vida assim o qui s.
É uma redundância mas é a verdade... talvez por isso, aquele peixinho,
acompanhado de grelos bem verdinhos, batatas e cenouras cozidas, tudo regado
com um belíssimo azeite de qualidade extra que também só o nosso país possui,
ainda tenha sabido melhor.
A minha experiência é reduzida, não ando propriamente
a viajar pelo mundo fora a experimentar menus, mas ainda recordo a desilusão
que tive quando comi um peixinho oferecido por pescadores, vivia eu na cidade
da Beira, em Moçambique, e que eles tinham apanhado no Oceano Índico.
É que o sabor dos peixes tem, naturalmente, a ver com
o alimento e a temperatura das águas onde vivem e são apanhados, e o mar a Norte
das costas de Portugal, onde existe o melhor peixe do mundo, reconhecido por
aqueles que o podem comer por todo o lado, como era o caso de Nelson Piquet,
campeão brasileiro de F1, que afirmou, com toda a convicção, nunca ter comido
melhor peixe do que em Portugal.
A Torre do Bugio, ao largo, na entrada da barra para o
grande estuário do Tejo, em frente de Lisboa, de um lado, e de Cacilhas, do
outro, foi pano de fundo das minhas vistas enquanto almoçava e o sol de inverno
rebrilhava nas águas.
À saída, percebi que havia ali clientes de todos os
dias, para os quais aquele cenário e aquele peixinho grelhado seriam o trivial.
Que desperdício, algo tão bom ser o trivial... Por
isso, é que a vida dos ricos é um tédio e uma sensaboria. Tudo acaba por perder
a graça...
Por exemplo, eu adoro sardinhas assadas na brasa nos anos em que elas
são gordas e saborosas, o que está longe de sempre acontecer, acompanhadas de
uma salada de pimentos verdinhos, também assados na brasa, com tomates e broa
de milho. Então, reservo-me o prazer de as saborear apenas de oito em oito, ou
mesmo qui nze em qui nze dias, para não abusar do prazer que elas me dão.
Na vida, o que é especialmente bom, não se pode tornar
numa trivialidade.
- Dá para perceber?...
Devia fazer-se o mesmo com a própria vida, vivendo-a devagar para saborear as coisas boas se elas, por acaso, acontecerem.
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