Quanto a mim, asneira!... Há, da parte
dos ingleses, um egocentrismo que lhes está nos genes, que é filho do
isolamento de quem nasceu ilhéu mas que desde sempre se ligou ao mundo pelo comércio
marítimo.
A Comunidade Europeia era a oportunidade
de transformarem o Canal da Mancha naqui lo
que ele é, um simples canal, que o nosso Batista Pereira, nascido em 1921, ali
para os lados de Alhandra, criado entre o Tejo e as margens, atravessou a nado
depois de se besuntado muito bem com gordura por causa do frio das águas.
Agora, era a forma mais simples de se
ligarem ao resto da Europa, de abater fronteiras fora da ilha, mas falou mais
alto, mais uma vez, um pretenso instinto de defesa como se alguém que lhes
queira fazer mal se atrapalhasse com o Brexit.
Foi apenas um marcar de posição que vem
do seu passado anglo – saxónico, da pretensa necessidade de vincar a sua posição
no mundo.
Conheci-os de perto, em 1963 estávamos
separados por uma simples linha da fronteira entre Angola e a Rodésia do Norte.
Eu, fazia parte dos portugueses, eles,
dos brancos. Sempre gostaram de terem um estatuto à parte, melhor que o dos
outros. Não era esse o caso, ali, naquele sítio, num alto planalto, mas o que é
facto é que todo aquele corredor central, de ponta a ponta a ponta do
continente africano, era deles.
Para nós, tinham ficado os terríveis mosqui tos da costa leste e oeste, que não impediam os
pouco exigentes colonos portugueses de lá se fixarem para comercializarem com
os povos do interior.
Nós sempre fomos assim para com os representantes
do nosso povo por esse mundo fora mais ou menos entregues à sua sorte
sujeitando-se a tudo a mando de uns ricalhaços que os exploravam cá de longe, do
“bem bom”...
Como dizia um, meu vizinho, comerciante
por conta de outrem, lá nas terras do fim do mundo, onde eu estava na qualidade
de militar, numa carta para a mulher no longínquo Trás-os-Montes:
-“Mulher:
Estou nas raias da “Islaterra”, os “leones,”
entram-me pela porta da casa dentro...”.
Tudo esta gente suportava sem um
queixume ou reclamação, humildes e analfabetos. Ao fim e ao cabo, que diferença
haveria entre a aldeia em que nasceram, lá no Norte de Portugal, atrás do sol –
posto, e aquele outro local para onde o destino os tinha enviado?
–
Para além dos “leones”, é bom de ver, nenhum outro...
Sobreviventes, é o que me apetece chamar
aos meus compatriotas espalhados por esse mundo fora, muito diferentes dos
emigrantes ingleses que logo de manhã içavam à frente das casas, isoladas, a
bandeira de Inglaterra, os tais, a quem os negros chamavam de “brancos” para os
distinguir de nós outros que éramos apenas os portugueses...
Nós fomos, pelo meio daqueles matos, os
verdadeiros colonizadores, que trocávamos com as populações autóctones, barras
de sabão por peles de animais, e a mulher com quem dormíamos à noite era uma
representante local numa cubata melhorada atrás da loja do comercio.
Por isso, quando a UPA e o MPLA mataram em
Angola quem mataram à espera que os outros fugissem, como os belgas, os
portugueses limitaram – se a passar a viver com a espingarda ao ombro.
Para
onde vamos logo ganhamos raízes, seja para onde for... a nossa terra é aquela
onde vivemos!
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