(Mia Couto)
Episódio Nº 23
Luarmina levantou-se,
atrapalhada. Rondou para trás e para diante como se procurasse não uma ideia
mas coisa como se estivesse perdida na desarrumação do quarto.
De repente parou junto
à cama e deu uma ordem:
- Levante-se Zeca.
Me admirei. E recusei
incapaz de meximento. Mas ela insistiu, me repuxou, alavanqueando-me pelas
axilas.
- Mas eu não aguento. Me deixe na cama.
- Deixe as conversas e me ajude a levantar-se, Zeca.
- Mas o que me quer fazer, Dona?
- O que eu quero fazer? Eu quero dançar consigo, homem.
Ironia do destino:
toda a vida sonhei dançar com aquela mulher. Agora que ela queria, eu não podia.
Luarmina ainda me arrastou como se eu fosse um saco cheio de coisa sem peso. Eu
me esforçava mas os meus pés não se encontravam com os passos.
Até que ela me
depositou, fardo falecido sobre a cama.
- Desculpe Dona
Luarmina.
- Você está doente eu
não devia ter forçado.
- Não é doença. Para nós,
doença é outra coisa, não é isso que vocês brancos...
- Eu sou mulata, não
esqueça.
- A senhora, para os indevidos
efeitos, é branca. A verdade de minha doença é esta: estou sendo castigado por
meu pai.
- Castigado?
- Porque não cumpri o pedido dele.
- Isso não pode ser
motivo...
- Não pode? Se fui infiel com a promessa que deixei. Não
se lembra do que lhe contei? Eu Prometi que tratava dessa mulher dele. Prometi
que lhe dava água, alimento...
- Mas você fez tudo isso.
- Não, não fiz nada.
- Fez, sim.
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