quarta-feira, março 26, 2008

Tiago Outeiro


TIAGO OUTEIRO


É inerente à personalidade humana: uns são pessimistas, outros optimistas e outros, ainda, uma coisa e outra conforme o estado de espírito de momento ou as suas conveniências sendo que, perante uma realidade social tão complexa, reflexo, aliás, da complexidade do próprio ser humano, haverá sempre motivos para se ser optimista ou pessimista.

Mas neste mundo de optimistas e pessimistas há sempre os radicais, aqueles que persistem sempre em verem o copo meio cheio ou meio
vazio.

Por graça, conta-se até aquela história dos dois irmãos que pelo Natal receberam, cada um, a sua prenda. Ao pessimista os pais puseram-lhe no sapatinho uma bicicleta, linda, cheia de cromados resplandecentes e ao optimista uma lata com estrume de cavalo.

O pessimista, quando viu a bicicleta começou de imediato a lamentar-se…porque iria cair, ferir-se e com toda certeza acabaria no hospital e que seria uma desgraça e mais isto e mais aquilo…entretanto, o optimista, corria alegremente pela casa com a lata do có-có na mão perguntando a toda a gente, perfeitamente eufórico: “ viram por aí o meu cavalo, viram por aí o meu cavalo”?

Parece, ao que dizem, que nós portugueses temos níveis baixos de auto estima, não nos atribuímos muito valor, consideramo-nos, regra geral, inferiores aos restantes europeus como se “o amor próprio” e o orgulho, característicos dos nossos vizinhos espanhóis, tivessem encontrado na fronteira um obstáculo intransponível.

E, no entanto, se é certo que tivemos os 60 anos de domínio dos Filipes e em 1890 o ultimato do governo inglês que não ajudaram muito à nossa auto estima, não é menos verdade que seria fastidioso enumerar tantos e tantos feitos que ao longo da nossa história constituíram motivos para nos sentirmos orgulhosos.

Ao contrário dos nossos irmãos do Brasil que afirmam a pés juntos que Deus é brasileiro, como agora se está a ver... nós não podemos beneficiar dessa vantagem e eu acrescento que ainda bem porque, se a crença na protecção divina talvez pudesse ajudar os mais frágeis e deprimidos não contribuiria, de certo, para nos estimular ao trabalho e á famigerada produtividade.

A Comunicação Social também, por sua vez, não ajuda os optimistas porque as boas novas vendem menos que as más e, nestas coisas, negócio é negócio e há que perceber isso.

Mas, às vezes, também somos surpreendidos agradavelmente, por notícias que nos reconfortam e a entrevista concedida pelo Tiago Outeiro à revista Focus acertou em cheio na minha costela optimista levando-me a crer que o actual panorama do nosso país tem potencialidades que constituem esperanças para o futuro.

O Tiago tem 31 anos, é licenciado em Bioquímica, doutorado no Massachusetts Institute of Technology, artigos publicados na revista Sciense que lhe valeram, na altura, o reconhecimento mundial e é, actualmente, Investigador no Instituto de Medicina Molecular em Lisboa onde é responsável por uma equipa de sete investigadores.

Concretamente, o trabalho que tem desenvolvido nos últimos anos pode bem ser a solução para algumas doenças neurodegenerativas como a doença de Parkinson e Alzheimer.

Quando o entrevistador lhe perguntou porque regressou dos EUA a Portugal ele respondeu textualmente;

-Achei que Portugal tinha dado um salto qualitativo importante e que, neste momento, tem vários locais onde se faz investigação com muita qualidade e ao nível do que se faz lá fora e isso é muito importante de dizer com todas as letras.

Toda a gente tem a ideia de que aqui as coisas não acontecem…aqui faz-se investigação! Aqui temos feito experiências idênticas às que faria se estivesse lá fora. Não temos a diferença que as pessoas imaginam. Pensa-se que sempre somos uns coitadinhos…

Quando lhe perguntaram o que faz com que muitas pessoas abandonem o país, o Tiago respondeu:

-Isso já não acontece tanto e a fuga de cérebros de que se fala, não corresponde à realidade. Hoje temos mais pessoas a regressar do que a ir embora. Temos pessoas a ir para fora fazer doutoramentos e pós doutoramentos mas quando falamos em fuga não podemos falar dessas pessoas.

Porque ir para fora nessa fase faz parte da formação e seria muito pouco desejável se isso não fosse assim. Fuga de cérebros seria se tivéssemos pessoas como a Carmo Fonseca, professores como António Coutinho, Professor João Lobo Antunes a dizer “Ok, Portugal não dá, vamos embora daqui, porque não consigo”. Isso não acontece.

Este testemunho, vindo de quem vem e da área de actividade de uma investigação que tem a ver com a cura de doenças que provavelmente afectam muitos milhares de doentes em todo o mundo e que, neste momento, apenas têm paliativos que sustêm ou retardam o andamento dessas doenças mas sem as curarem, constituiu um motivo de orgulho, optimismo e esperança no futuro do nosso país.

Meu caro Tiago, tu e a tua equipa fazem-me sentir optimista e porque, dos resultados do vosso trabalho, uma nova luz de esperança na vida pode voltar a brilhar para tantos milhares de pessoas, mesmo que ainda demore 5 ou 10 anos, desde já expresso os meus votos de boa sorte para o vosso trabalho porque, quando se fazem coisas que nunca foram feitas por alguém, convêm que aquela “partezinha” do aleatório que está por todo o lado esteja também do vosso.



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