segunda-feira, novembro 29, 2010

DONA FLOR

E SEUS DOIS

MARIDOS

Episódio Nº 281


Ali ouvia os seus auxiliares: relambórios, baboseiras. Não se dando por vencido, Máximo Sales expunha um plano audaz e simples: por que não aproveitar a roleta desmanchada e pôr tudo aquilo em pratos limpos? Como? Ora, como…empenando a bacia da roleta, de tal forma a fazer impedir a bolinha cair no sector do 17. Truque velho como o próprio jogo da roleta. Sem dúvida perigoso, desonesto certamente, mas não sendo assim, como obter a prova derradeira?

Máximo mantinha sua posição inicial: todos aqueles supostos absurdos, onde Pelancchi via a mão negra do destino atroz, não passavam de batota monstruosa, obra de uma quadrilha – estrangeira – mancomunada com fiscais e crupiês, com Arigof e Anacreon, com Mirandão.

“Que quadrilha, que estrangeiros, sono fregato, sono fututo!” – Para Pelancchi Moulas todo aquele converse de Máximo Sales era perda de tempo, nada mais. Nem quadrilha nem batota. Muito pior, seus inimigos para arruiná-lo, deitaram mão de forças sobrenaturais, incontroláveis, extraterrenas.

Em seu caminho nem sempre fácil, Pelancchi semeara ódios profundos, mortais inimizades. Quando preciso, sua mão fora pesada e dura, deixando à sua passagem um rastro de pragas e de juras de vingança. Agora via-se acuado, em meio ao feitiço e à bruxaria.

Pelancchi não temia os homens nem a luta, um rude adversário. Mas aquele gangster moderno, aquele filho do século das luzes e da técnica, refugiava-se sob os cobertores ao primeiro ronco do trovão, no medo da fulgurante luz dos raios, apenas um menino da Calábria, pequeno camponês filho da superstição e da miséria.

- “Maledetto, sono stregato!”

- Pois muito bem – disse Máximo Sales que só temia os homens e não acreditava em almas do outro mundo, livre-pensador e céptico, buscando para cada fenómeno explicação racional e lógica – pois muito bem, tiremos isso a limpo, vamos empenar a roleta e já veremos. É proibido e desonesto, eu sei, e ao senhor não agrada tal recurso, nem a mim. Trata-se, porém, de recurso extremo, e mais desonesto é o que estão fazendo com o senhor, não lhe parece? Se com a roleta empenada ainda der o 17 – e o senhor bem sabe que é impossível dar – eu concordarei consigo: é mesmo coisa do diabo e entregaremos a solução aos macumbeiros.

Pelancchi Moulas encolheu os ombros: se era para tirara a prova e só para isso, fizesse Máximo o que melhor lhe parecesse, viciasse a roleta mas com todo o cuidado e descrição.

Eu mesmo me encarrego do trabalho, fique descansado.

- E por uma só noite…

- De acordo, só a noite de hoje.

Esfregando as mãos, Máximo partiu a executar a tarefa delicada.

A Pelancchi Moulas tudo aquilo parecia inútil. Chegara o tempo de pôr sua fortuna e seu destino em mãos mais competentes que as de Máximo e as da polícia. Se havia alguém capaz de descobrir a explicação daquele enigma, esse alguém era Cardoso e Sª, o carismático filósofo cuja mente sublime se projectava no além, nos páramos do infinito, um clarão no espaço cósmico, desvendando o passado e o futuro, pois ele vivia ao mesmo tempo no ontem, no hoje e no amanhã, nos luminosos cumes, nos abismos negros.

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