sexta-feira, janeiro 21, 2011


INFORMAÇÕES ADICIONAIS À ENTREVISTA Nº 78 SOB O TEMA: "A VONTADE DE DEUS" (3)



O Terreno Fértil da Renúncia


O cientista político nicaraguense Andrés Pérez Baltodano, reflectiu ampla e criticamente sobre o Providencial, e suas consequências políticas. Atribui à concepção providencial religiosa a demissão que caracteriza a cultura política na Nicarágua e em maior ou menor grau, na maioria dos países latino-americanos Esta cultura ele a caracteriza como de “pragmatismo resignado”. Algumas das suas ideias:

- O "pragmatismo resignado" é um termo que eu uso para explicar a nossa visão da história e do nosso papel na história. O "pragmatismo resignado" é um pensamento, uma cultura que nos empurra para nos adaptarmos à realidade e aceitá-la como ela é.

O pensamento pragmático resignado não tem vontade de mudança. Com ele, não podemos escandalizarmo-nos com a realidade e partir para a sua transformação…Com esse pensamento temo-nos habituados a níveis brutais de pobreza sofrida pelos nossos concidadãos e à impunidade e corrupção de nossos governantes.

E de onde vem o pragmatismo resignado, essa cultura, essa maneira de pensar sobre o poder e a história? Eu acho que o pragmatismo resignado tem suas raízes principais na concepção providencial que dominou a nossa cultura religiosa. O Providencialismo é uma visão da história que nos leva a acreditar que Deus é que dispõe sobre a vida de cada um de nós. É uma maneira de ver a vida em que Deus é o responsável pelo que acontece com meu tio, comigo, com a sociedade da Nicarágua, do Iraque e do resto do mundo. Nesta visão de história, marcada por um Deus providencial, é ele e não nós, que é o regulador, administrador e auditor de tudo que acontece na história.

Alguns teólogos distinguem entre o que é "providencial meticuloso" e " providencial em geral” e afirmam que em algumas sociedades prevalece o meticuloso e em outras transformaram o meticuloso em geral. Providencialismo meticuloso é pensar que Deus está no comando de tudo: chuva e seca, a cura do cancro e a direcção de cada furacão. Dentro do “providencialismo em geral”, algumas pessoas dizem que Deus criou o mundo e, em seguida, deixou-nos sozinhos, enquanto outros dizem que funciona de vez em quando. No “Providencialismo em geral” sempre há espaço para a liberdade. Eu, pessoalmente, acho que não precisamos de tirar Deus fora do jogo, mas precisamos de sair deste providencialismo meticuloso em que vivemos, para procurar o lugar de Deus e o da nossa liberdade e, dessa forma, se alguém decide ser ateu, que seja mas um ateu sério.

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