quinta-feira, março 10, 2011

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 51


Sendo um desportista, o capitão preferia naturalmente aquelas que ofereciam certa resistência inicial. As fáceis, com maior ou menor conhecimento e prática, não lhe davam a mesma exultante sensação de poder, de vitória, de difícil conquista.

A timidez, a vergonha, a oposição, a revolta, obrigando-o a empregar a violência, a ensinar o medo e o respeito devidos ao senhor, amo e amante, beijos conseguidos no tapa, isso, sim, dava nova dimensão ao prazer, fazia-o mais profundo e denso.

Em geral tudo terminava pelo melhor, uns socos, uns tabefes, por vezes uma surra, quase nunca o cinto ou a taca de couro cru – foi na taca que Ondina lhe abrira finalmente as pernas.

No fim de uma ou duas semanas, no máximo, a felizarda estava pelos beiços não querendo outra coisa, algumas até se tornavam chatas de tanto agarramento, e essas duravam pouco tempo na condição de favorita. A citada Gracinha, por exemplo: para comê-la em paz tivera de reduzi-la no soco, deixando-a desacordada, tal o seu pavor. Não passara uma semana após a amarga noite onde aprendera o medo e o respeito, e suspirava de impaciência, chegara a audácia de vir convidá-lo em hora imprópria.

Em Aracajú, onde ia frequentemente a negócio, Veneranda a rir, gaiata na troça, lhe propunha moça donzela, quase sempre meninota arrombada mais ou menos recente. Castelo de luxo, quase oficial pelo grande número de políticos a frequentá-lo, a começar pelo nobre governador (a melhor repartição pública do estado, no dizer de Lulu Santos, montado em suas muletas, freguês assíduo), ademais da justiça, desembargadores e juízes, da indústria, do alto comércio e dos bancos, protegido pela polícia (o lugar mais ordeiro e decente de Aracajú, incluindo casas das melhores famílias, ainda na opinião do já citado rábula), numa única ocasião romperam-lhe a tranquilidade ambiente necessária ao conforto e à potência dos ilustres clientes, e quem o fez foi o capitão Justo, tentando demolir os móveis do quarto, onde descobriu o truque da pedra-ume, usado por Veneranda para criar a ilusão de tampos inteiros em moleca nova vinda do interior. Passada a raiva, findo o tremendo reboliço, fizeram-se amigos e a cafetina, com verniz de letrada, só o tratava de “a fera de Cajazeiras do Norte, desbravador de cabaços”.

No castelo de Veneranda, bom mesmo eram as gringas, importadas do Sul, francesas do Rio e de São Paulo, polacas do Paraná, alemãs de Santa Catarina, todas loiríssimas oxigenadas e fazendo de um tudo. O capitão não despreza uma gringa competente; muito ao contrário, aprecia demais.

Pelos arredores, nos cantos de rua, em povoados, vilas, cidades vizinhas, nas roças sobretudo, naquele interior indigente, sobravam meninas e quem as oferecesse, parentes e aderentes.

Raimundo Alicate, lavrador de cana em terras de usina, em troca de pequenos favores, levava garotas ao capitão. Festeiro, batedor de atabaque, recebendo caboclos, tinha facilidade de conseguir gado de bom corte e quando ele dizia “é donzela” ninguém duvidasse, era de certeza. Também Gabi, dona de pensão de mulheres na cidade, de quando em quando destocava pelo campo material apetecível, mas com a velha proxeneta toda a atenção era pouca para não adquirir gato por lebre.

Em mais de uma circunstância, Justiniano ameaçara fechar seu puteiro se ela tentasse de novo enganá-lo; não adiantava, a vigarista reincidia.

As melhores ele mesmo as recrutava, na roça, no balcão do armazém, em arrasta pés e fandangos, nas andanças com os galos de briga em rinhas próximas e distantes
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