sábado, junho 18, 2011

TEREZA


BATISTA



CANSADA


DE


GUERRA




Episódio Nº 130



ABC DA PELEJA ENTRE
TEREZA BATISTA E A

BEXIGA NEGRA


A



Amigo, permita lhe dizer, o amigo é um fode-mansinho, azucrinando os ouvidos da gente, sem pausa e sem reserva: um gole de cachaça, um ror de perguntas. Não lhe parece que cada um tem direito a viver a sua vida em paz, sem ninguém nela se envolver?

Boa dona de casa, sim senhora; tendo nascido livre e logo vendida como escrava, quando um dia se encontrou em casa sua com sala e quarto, jardim de flores, quintal de árvores frondosas, de sombra e rede dava gosto ver Tereza Batista ordenada e mansa, nos cuidados e na delicadeza. Casa bem posta e asseada, nas mãos de Tereza farta de mesa e alegria, no perfume da pitanga, no canto da cigarra, não houve em Estância, terra de capricho e de bem-estar, lar que se comparasse. Aí tem o amigo minha opinião sincera, igual a de muitos outros, de todos os que a conheceram e trataram no tempo do doutor; eu a dou de graça sem cobrar pela informação, nada para além desses parcos goles de cachaça – se bem muitos achem, cavalheiro, que tanta pergunta já está enchendo e o melhor seja não responder a curiosos vindos de fora, qual o propósito de tanto interrogatório? Na ideia de minha patroa, traz o caríssimo intenções de amigação, por isso tanto mexe e futuca na vida da criatura. Possa ser mas nesse caso não lhe aconselho continuar, desista aqui mesmo, não vá diante, deixe Tereza em paz.

Porque havia ela de aceitar forasteiro, se recusou ricaço de toutiço e pompa, mandão na política, não querendo cobrir as finuras e a bonança do doutor com as implicâncias e azedumes de qualquer graúdo balofo, mesmo industrial, banqueiro, pai-da-pátria, poder de rico? Quem avisa amigo é, não leve plano avante, se levar, vai tomar chabu. Para cobrir a bondade, a gentileza, a doce companhia interrompida, só o manto do amor, caro amigo, pois, como escreveu em verso rapariga das minhas relações num cabaré de Ilhéus, cidade do cacau e da agreste poesia, “o amor é um manto de veludo que encobre as imperfeições da humanidade”. Coberta com um manto de veludo, Tereza Batista fez por merecer respeito e estima; deixe a moça em paz, cavalheiro.

Do ofício de dona de casa só não soube mandar empregados, tratar a criadagem com a devida distância e a depreciativa bondade reservada aos domésticos e aos pobres em geral.

Tendo muito aprendido com o doutor, alguma coisa a ele ensinou ao lhe demonstrar, no correr dos dias, ser falsa e vã toda e qualquer diferença estabelecida entre os homens na medida e no peso do dinheiro e da posição. As diferenças só se revelam em peso e medida de exacto valor quando a peleja é com a morte, trava-se em campo raso, sendo norma única a inteireza do homem. Não passando o mais de bobagem, razões de dinheiro ou de falsa sapiência. Inferior a quem e porquê?

Tereza foi a igual do pobre e do rico e do pobre comeu, com talher de prata e fina educação, comeu com a mão, assim a comida é mais gostosa.

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