sexta-feira, julho 15, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA

Episódio Nº 153


Quando, tomando o pião na unha durante a conversa consequente à deserção de Juraci, partiu Tereza rua afora a vacinar, o doutorzinho ficara tonto: referira a insolência da enfermeira para obter de Tereza insinuação de fuga, convite de partida, um conselho, um comentário, uma palavra. Em lugar de lhe oferecer o bom pretexto, a imbecil se metia a irmã de caridade. Obrigando-o a ir ao posto em vez de ir à estação.

No posto recebera a visita do Presidente da Câmara Municipal, no exercício do cargo de prefeito, em busca de informações sobre as medidas tomadas pelo doutor director e também e também para conversar. Comerciante e fazendeiro, chefe político, amigo da família do doutorzinho, a ele viera Oto recomendado.

Falou franco: um político, meu jovem doutor, deve agir politicamente mesmo em meio dos cataclismos, sendo a bexiga o pior deles. A ameaça de morte para a população do município, pavorosa praga, tinha no entanto a epidemia lado positivo para candidato a rápida carreira política, sobretudo tratando-se de médico, e ainda por cima director do posto de saúde. Era assumir o comando da batalha, à frente dos funcionários ou de quem fosse – subtil referência ao facto de ter visto a manceba do doutor na rua, a vacinar – para debelar o surto da bexiga negra, livrar o município do monstro sem piedade.

Melhor oportunidade não pode existir, meu caro, para abocanhar a gratidão e os votos da gente de Buquim. O povo é pagador correcto e adora médico capaz e devotado – basta ver o prestígio do doutor Evaldo de Mascarenhas, não foi vereador, prefeito, deputado estadual por lhe serem indiferentes as posições e os cargos. Mas doutor Oto Espinheira, se tomasse a ocasião pelos cabelos, com o prestígio advindo da família e da bexiga por ele expulsa da cidade, poderia assentar em Buquim base política indestrutível, ramificada pelos municípios vizinhos, onde igualmente chegariam com certeza a varíola e a fama do doutor – para alguma coisa, caro amigo, há-de servir a epidemia.

Agradeça a Deus, doutor, a colher de chá que lhe está dando e a aproveite: atire-se à luta, visite os bexigosos e cuide deles, dos ricos e dos pobres, faça o lazareto sua moradia. Se pegar bexiga não se importe, sendo vacinado dificilmente morrerá; uns dias de febre e o rosto enfeitado de picadas, para o eleitorado não há melhor cartaz, médico de cara bexigosa é candidato eleito.

Algum perigo existe, é claro, já aconteceu a bexiga levar consigo médico com vacina e tudo, mas quem não planta não colhe, meu doutorzinho, e afinal a vida só vale a pena para quem a joga a cada instante e paga para ver.

Tendo assim aconselhado seu pupilo, despediu-se. No fim da rua, a rapariga do doutor a vacinar na porta de uma casa. Bonita de dar medo, sobretudo a um homem virtuoso igual a ele, temente a Deus e bem casado; como se não bastasse a bexiga
. (clik na imagem)

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