sexta-feira, agosto 26, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 189



- Era quase verdade.

- Em certas coisas, Tereza, você é igualzinha a ele, olho para você e vejo Emiliano. Na convivência foi ficando parecida: a lealdade, o orgulho, sei lá o quê…

Ficou um instante calado, logo prosseguiu:

- Eu quis vir vê-lo agora, me despedir enquanto ele está em sua companhia, não quero estar presente quando chegar a gente dele. Por sua causa, Tereza, ele veio para Estância, para junto de nós, e nos deu um pouco do seu tempo tão ocupado e nos transmitiu seu amor à vida. Quando ele chegou eu já estava entregue à velhice, à espera da morte, ele me levantou de novo. Quero me despedir dele a seu lado, os outros não conheço e não quero conhecer.

Novamente o silêncio, o morto de olhos abertos. Mestre João continuou:

- Nunca tive irmãos, Tereza, mas Emiliano foi para mim mais do que um irmão. Só não perdi tudo que meu pai deixou porque ele se ocupou dos meus negócios. Mesmo assim nunca abriu a boca para uma confidência. Ainda agora eu estava dizendo a Amarílio: o orgulho e a generosidade, o rebenque, a rosa. Vim para ver Emiliano e para lhe ver, Tereza. Posso lhe ser útil em alguma coisa?

- Muito obrigado seu João. Nunca vou esquecer o senhor e o doutor Amarílio, nesses tempos que vivi aqui tive até amigos, até isso ele me deu.

- Vai permanecer em Estância, Tereza?

- Sem o doutor, seu João? Não poderia.

Sorvem o último gole do café, calados. João Nascimento Filho a pensar no futuro de Tereza, pobre Tereza, dizem ter ela ter amargado um mau pedaço antes de vir com Emiliano, ter levado vida de cão. O médico, aflito, à espera do padre para receber os parentes, a esta hora na estrada em desenfreada corrida para Estância, a filha, o genro, o irmão, a cunhada e os aderentes.

Doutor Amarílio teme o encontro da família com a amásia, problemas delicados, não sabe o médico resolvê-los. Mal conhece alguns dos parentes do doutor Emiliano. Quem os conhece bem é o padre Vinícius, já esteve na usina várias vezes celebrando missa… Cadê o padre, porque tarda tanto?

João Nascimento Filho fita o amigo demoradamente, comovido, sem esconder as lágrimas e o temor da morte:

- Nunca pensei que ele fosse antes de mim, não vai demorar a minha vez… Tereza, minha filha, eu vou embora antes que essa gente chegue. Se um dia precisar de mim…

Abraça Tereza, toca-lhe de leve a testa com os lábios, muito mais velho agora do que ao chegar para ver o amigo morto e dele despedir-se. Até breve, Emiliano. (clik na imagem)

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