quarta-feira, agosto 24, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA



Episódio Nº 187



No trivial e em pratos requintados, de Sergipe, da Bahia, na moqueca de sururu das Alagoas, emérita doceira. Com ela Tereza aprendeu a medir o sal e a misturar temperos, a perceber o tempo exacto do cozimento, as regras do açúcar e do azeite, o valor do coco, da pimenta, do gengibre.

Quando a velha Eulina, sentindo a cabeça por demais pesada, o peito opresso – porcaria de vida! – largava tudo e ia embora sem dar satisfações, Tereza assumia o posto vago diante do grande fogão de lenha – quem gosta de comer do bom e do melhor sabe que não existe comida igual à feita em fogão de lenha.

- Essa velha Eulina cada vez cozinha melhor… - disse o doutor repetindo o escaldado de galinha: - galinha de parida, por ser um prato simples, é dos mais difíceis… De que ri Tereza? Me conte, vamos.

No preparo da galinha e no escaldado, a velha nem tocara, sumida num calundu sem tamanho. Os doces, sim, de caju, de jaca, de araça, eram de Eulina, gostosuras.

Ai, Tereza, como te fizeste cozinheira, quando e porquê? Aqui em vossa casa, meu senhor, e para melhor vos comprazer. Tereza na cozinha, na cama e no estudo.

O regresso de Alfredão à usina como que marcara o fim de uma época na vida de Tereza com Emiliano, a mais difícil de transpor. Silencioso e calmo, misto de jardineiro e jagunço, de vigia e de fiel amigo, no seu trato frutificaram e floresceram pomar e jardim, à sua sombra medraram a confiança, a ternura, o carinho dos dois amantes. Tereza se habituara ao silêncio de Alfredão, à cara feia, à lealdade.

A preguiçosa criada dos primeiros dias fora sucedida por Alzira, gentil e rumorosa, levada por pretendente antigo, emigrado para Ilhéus em busca de trabalho, de volta para casar-se. Tuca, gorducha e comilona, ocupou o posto vago. Misael substituíra Alfredão no pomar e no jardim, a fazer compras, a vigiar a casa, não porém a vigiar Tereza – não sendo mais preciso, pois já sabia o doutor a que se ater.

Assim decorreram os dias, as semanas e os meses e Tereza foi varrendo da memória a lembrança do passado.

Com o doutor presente o tempo não chegava para tanta coisa: aperitivos, almoços e jantares, os amigos, os livros, os passeios, os banhos de rio, a mesa, a cama – a cama, a esteira estendida no jardim, o sofá da sala onde ele examina documentos e redige ordens, a marquesa no quarto onde ela costura e estuda, a banheira onde tomam banho juntos, invenção mais doida do doutor. Aqui e ali e sempre bom.

17

Por volta das duas da manhã, retorna doutor Amarílio, trazendo o atestado de óbito e notícias dos parentes do doutor. Para localizá-los no baile de gala do Iate Club, acordara meio Aracaju numa série de telefonemas até conseguir falar com o mais moço dos irmãos, Cristóvão, a voz pastosa de bêbado: fora uma luta de mais de duas horas. Felizmente, desta vez, Bia Turca, a telefonista, não fizera alarde do adiantado da hora, curiosa de saber as novidades, os detalhes da morte do ricaço.

A verdade é que o médico para ganhar-lhe as boas graças, lhe dera a entender ter o doutor desencarnado (Bia Turca praticava o espiritismo) em circunstâncias muito especiais. Não precisou de fornecer detalhes, Bia Turca, talvez devido à profissão ou aos fluidos, tinha antenas poderosas. (clik na imagem e aumente)

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