sábado, setembro 10, 2011

TEREZA


BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA


Episódio Nº 202


24

Com o doutor em vida, o rebenque na mão, quem houvera de se atrever, tenente? Não vejo homem com peito para tanto, em minhas relações ou fora delas, nos arraiais da trova e da cantiga onde a concorrência aumenta a olhos vistos sendo actualmente a nação dos violeiros a mais numerosa do Nordeste.

Com tanto trovador escrevendo folheto, ganhar a vida anda difícil, capitão. O prezado não é capitão? Me perdoe o engano, seu major. Nem capitão nem major, não é militar, simples paisano? Folgo em saber, mas não espalhe, se lhe dão farda e dragonas, bata continência e goze as regalias.

Com o doutor em vida cadê inspiração e rima? Por mais coragem se tenha no trovar, em pôr enfeites nos acontecidos, ninguém está disposto a apanhar na cara ou a engolir papel impresso, mesmo quando no verso se botou sal e pimenta.

Violão é arma de festa, não foi feita para enfrentar chicote, punhal e pistoleiro. Com a prata do rebenque faiscando nas estradas do sertão e aqui nas avenidas do Bahia, capital primaz desses Brasis, ninguém era doido de sair falando no doutor e na amásia, não vejo homem de tanta competência. Com ele em vida, eu queria ver macho rimar gozo com morto.

Quando se registou a ocorrência, a notícia correu de boca em boca, tudo quanto era cantador foi agarrando a viola, há muito não aparecia assunto mais maneiro para uma glosa de patifaria. Da Bahia ao Ceará, nesse fim de mundo se repetia o mesmo mote:

O bode velho morreu
Em riba da rapariga
No meio da putaria.

Já pensou, deputado, se o doutor escutasse esta falta de respeito, bode velho, rapariga e putaria!

Como a história se espalhou, como se teve notícia de tudo direitinho, de todos os particulares? Por quem se soube? Pelos criados, pelo médico, pelo padre-mestre, pelo sacristão?

Por todos e por ninguém, essas coisas se adivinham. Não adianta levar o corpo embora para fazer sentinela noutra freguesia, em casa da família, fabricar morte decente, querer enganar a humanidade; para trovar, não se precisa saber muitos detalhes.

Desde que se conheça o principal, o resto a gente inventa ao sabor da rima.

Muitos folhetos foram escritos, não só os três de seu conhecimento, senador. Na Paraíba saiu um, intitulado O Ricaço Que Morreu Comendo Uma Donzela, pelo título o chefe já vê que o autor ouviu cantar o galo mas não sabe onde.

No dito folheto não houve referência directa ao nome do doutor, sempre tratado de ricaço, milionário, fulano, beltrano, sicrano, mas como diabo o violeiro de Campina Grande aprendeu o nome todo de Tereza? Folheto mais sujo nunca vi – e olhe que eu tenho escrito alguns porretas – tudo rimas em iça, alho, eta, oda, já vê o nobre vereador as palavras nele usadas.

Vossa senhoria não é político? Não é vereador nem deputado? Não é senador nem candidato? Uma pena: os políticos sempre afrouxam um dinheirinho, também, pudera, não gastam dinheiro deles mas sim do povo brasileiro. (clik na imagem)

Site Meter