quinta-feira, setembro 22, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA


Episódio Nº 212



- Quer dizer, Favo de Mel que é você que dita a moda em Estância… – Emiliano ria o largo riso brincalhão ouvindo detalhes das repetidas visitas da alta-costura local na pessoa de Fausta Larreta, dedal de ouro, sina adversa: sucessivas falências e enfermidades crónicas na família a viver às suas custas, noivados desfeitos, permanente agonia: a minha vida é um romance, um romance não, um folhetim de amor e falsidade.

No baile de Ano Novo, havia cinco vestidos copiados dos meus… Sem falar na roupa de baixo, até de calçolas querem tirar molde. Quem dita a moda não sou eu, é o senhor, meu costureiro.

Mostrava-lhe a estampa recebida de dona Clemência, as indulgências plenárias concedidas pelo Papa a quem rezasse a oração de santa adolescente e virginal, sua xará:

- Estou limpa de todos os pecados, não vou mais lhe permitir tocar em mim; tire a mão daí seu pecador – Ao ameaçá-lo com a castidade eterna, oferecia-lhe os lábios para o beijo.

Tudo para fazê-lo rir o largo riso cálido e bom como um cálice de vinho do Porto. Ultimamente ele ria menos, perdido em longos, pesados silêncios. Jamais tivera, no entanto, tão afectuoso e terno para com Tereza, amiudando as vindas a Estância, ampliando o tempo de permanência. Na cama, na rede a possui-la, no colo da amiga repousando.

Velhas comadres tentaram aproximar-se, meter-se portas adentro no chalé, fuçando intrigas, transmitindo os rumores da cidade, mas Tereza, delicada se possível, firme sempre, lhes fechou as portas na cara, não sendo as fuxiqueiras nem do seu agrado nem do agrado do doutor.

Irada, expulsou uma delas poucos dias antes de tudo se acabar. A pretexto de discorrer da quermesse do domingo próximo, tendo pedido e obtido uma prenda para o leilão em benefício das obras do Asilo dos Velhos, em lugar de despedir-se, a bisbilhoteira iniciara picante relato de escândalos.

A princípio desatenta, pensando na maneira de despachar a maldizente sem a ofender, Teresa não tomou de imediato conhecimento do assunto em causa.

- Já lhe contaram, não? É um horror, em Aracaju ninguém fala de outra coisa, parece que ela tem fogo no rabo, não pode ver homem… E o marido…

- Ela, quem? – Tereza punha-se de pé.

- Ora, quem… A filha do doutor, a tal de Apa…

- Cale a boca e saia!

- Eu? Está-me mandando embora? Olhe a ousada… Sujeita de vida irregular, ajuntada com um homem casado, mulherzinha…

- Puxe daqui para fora! Depressa.

Ao ver os olhos de Tereza, a xereta azulou. Tereza ficava sabendo sem querer saber. Não pelo doutor, de sua boca não saía uma palavra, apenas os inusitados silêncios, o riso a tornar-se escasso e breve em homem de riso largo e fácil. (clik na imagem)

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