TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 210
Tereza, você agiu como uma senhora. Agora vamos tomar um aperitivo para brindar à musa dos poetas de Estância, ao meu Favo-de-Mel.
Uma senhora? Logo no começo da amigação, ele dissera: quero-lhe ver uma senhora, só não será se não quiser. Um desafio, ela tomou o pião na unha.
Não sabia direito como fosse uma senhora. Certamente dona Brígida, viúva de médico e político, fora nos tempos do marido senhora de muita representação. Mas quando Tereza a conhecera e com ela tratara mais parecia doida mansa, de miolo mole. Em noite de cachaça, Gabi vangloriava-se de haver sido a senhora Gabina Castro, esposa de um sapateiro, antes de ser Gabi do padre e acabar dona de bordel. Jamais senhora fina, com certeza.
As senhoras de Estância, só de longe as conhece, de enxergá-las nas janelas a lhe espiarem o passo e os trajes. Os maridos de algumas delas, magistrados, autoridades, frequentam-lhe a casa em visita ao doutor, de cortesia e adulação. Nas relações de Tereza, gente pobre da vizinhança, não se encontram senhoras, apenas mulheres labutando para criar os filhos com o ganho parco dos seus homens. Ainda assim, certos laços se estabeleceram entre Tereza e as senhoras de Estância.
Estando o doutor ausente, Tereza recebeu, determinada manhã, a visita de Fausta Larreta, costureira afamada e cara:
- Me desculpe o incómodo, mas venho da parte de dona Leda, a senhora do doutor Gervásio, fiscal do consumo.
Doutor Gervásio, magricela e polido, por mais de uma vez visitara Emiliano; a esposa, Tereza a vira numa loja escolhendo tecidos. Moça bonita, bem feita de corpo, petulante, uma fidalga, a fazer pouco das fazendas expostas:
- Não achei nada a meu gosto, seu Gastão. Precisa melhorar o sortimento.
Falando para o comerciante, o olho em Tereza, a observá-la. Ao retirar-se até outra, seu Gastão, não deixe de mandar buscar na Bahia o crepe da China estampado, da porta dona Leda sorriu para Tereza. Tão inesperado sorriso pegou Tereza desprevenida.
A costureira sentou-se, conversaram na sala de jantar:
- Dona Leda me mandou aqui para lhe pedir um favor: ela queria emprestado seu vestido bege e verde com bolsos grandes, pespontados, sabe qual é?
- Sei, sim.
- É para tirar o molde, ela acha esse vestido um xispeteó, eu também. Aliás, todos os seus vestidos são um estouro. Me disseram que sua roupa vem toda de Paris, até a de baixo, é verdade?
Tereza pôs-se a rir. O doutor comprava-lhe as roupas nas casas de modas da Bahia, tinha gosto na escolha e prazer em vê-la trajada a capricho, não só quando saíam a passeio mas também dentro de casa. Trapos para todas as horas e ocasiões, a última moda, trazidos a cada viagem, os armários repletos; sem dúvida para compensá-la da vida carente de diversões. De Paris? Assim dizem, fala-se tanta coisa numa cidade pequena como estância, nem imagina! (clik na imagem)
Tereza, você agiu como uma senhora. Agora vamos tomar um aperitivo para brindar à musa dos poetas de Estância, ao meu Favo-de-Mel.
Uma senhora? Logo no começo da amigação, ele dissera: quero-lhe ver uma senhora, só não será se não quiser. Um desafio, ela tomou o pião na unha.
Não sabia direito como fosse uma senhora. Certamente dona Brígida, viúva de médico e político, fora nos tempos do marido senhora de muita representação. Mas quando Tereza a conhecera e com ela tratara mais parecia doida mansa, de miolo mole. Em noite de cachaça, Gabi vangloriava-se de haver sido a senhora Gabina Castro, esposa de um sapateiro, antes de ser Gabi do padre e acabar dona de bordel. Jamais senhora fina, com certeza.
As senhoras de Estância, só de longe as conhece, de enxergá-las nas janelas a lhe espiarem o passo e os trajes. Os maridos de algumas delas, magistrados, autoridades, frequentam-lhe a casa em visita ao doutor, de cortesia e adulação. Nas relações de Tereza, gente pobre da vizinhança, não se encontram senhoras, apenas mulheres labutando para criar os filhos com o ganho parco dos seus homens. Ainda assim, certos laços se estabeleceram entre Tereza e as senhoras de Estância.
Estando o doutor ausente, Tereza recebeu, determinada manhã, a visita de Fausta Larreta, costureira afamada e cara:
- Me desculpe o incómodo, mas venho da parte de dona Leda, a senhora do doutor Gervásio, fiscal do consumo.
Doutor Gervásio, magricela e polido, por mais de uma vez visitara Emiliano; a esposa, Tereza a vira numa loja escolhendo tecidos. Moça bonita, bem feita de corpo, petulante, uma fidalga, a fazer pouco das fazendas expostas:
- Não achei nada a meu gosto, seu Gastão. Precisa melhorar o sortimento.
Falando para o comerciante, o olho em Tereza, a observá-la. Ao retirar-se até outra, seu Gastão, não deixe de mandar buscar na Bahia o crepe da China estampado, da porta dona Leda sorriu para Tereza. Tão inesperado sorriso pegou Tereza desprevenida.
A costureira sentou-se, conversaram na sala de jantar:
- Dona Leda me mandou aqui para lhe pedir um favor: ela queria emprestado seu vestido bege e verde com bolsos grandes, pespontados, sabe qual é?
- Sei, sim.
- É para tirar o molde, ela acha esse vestido um xispeteó, eu também. Aliás, todos os seus vestidos são um estouro. Me disseram que sua roupa vem toda de Paris, até a de baixo, é verdade?
Tereza pôs-se a rir. O doutor comprava-lhe as roupas nas casas de modas da Bahia, tinha gosto na escolha e prazer em vê-la trajada a capricho, não só quando saíam a passeio mas também dentro de casa. Trapos para todas as horas e ocasiões, a última moda, trazidos a cada viagem, os armários repletos; sem dúvida para compensá-la da vida carente de diversões. De Paris? Assim dizem, fala-se tanta coisa numa cidade pequena como estância, nem imagina! (clik na imagem)
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