segunda-feira, setembro 19, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE GUERRA






Episódio Nº 209



- Minha vida dá um romance, é só escrever… - afirmava, patética, a costureira Fausta, emissora das senhoras da cidade. .

Não a vida de Tereza em Estância; mansa e alegre, não é bom material para enredo de romance. Quando muito, serve para com ela se compor uma canção de amor, uma romança.

Na ausência do doutor, mil pequenos afazeres para encher o tempo de espera; com ele presente a alegria. Um idílio de amásios no qual nada sucedeu digno de ser contado. Ao menos em aparência. Brejeira, a rir, um dia ela exibiu ao doutor versos escritos e enviados pelo poeta Amintas Rufo, inspiração a medir pano na loja do pai, burguês sem ideal.

- Se o doutor prometer não se zangar, lhe mostro uma coisa. Guardei só para lhe mostrar.

O envelope chegara pelo correio, dirigido a dona Tereza Batista, Rua José de Dome, Nº 7, melosa versalhada. Ao fim das duas páginas a assinatura e os títulos do autor: Amintas Flávio Rufo, poeta apaixonado e sem esperança. A cabeça no colo de Tereza, o doutor leu as estrofes do caixeiro:

- Você merece coisa melhor, Favo-de-Mel.

- Até que tem uns versos bonitos…

- Bonitos? Você acha? Desde que alguém acha uma coisa bonita ela é bonita. O que não a impede de ser ruim. Esses versos são ruins de mais. Uma bobagem – devolveu as páginas de caligrafia caprichada: Mais tarde, Tereza, iremos dar uma volta na rua, entraremos na loja onde o seu poeta trabalha…

- O senhor disse que não ia fazer nada…

- Eu não vou fazer nada. Você, sim, vai devolver os versos para ele não repetir a dose.

Tereza, pensativa, as folhas de papel na mão:

- Não, doutor, não vou, não. O moço não me fez nenhum agravo, não me mandou carta ou bilhete, não me propôs namoro ou dormir com ele, em nada me ofendeu, me diga porque eu deva ir em pessoa devolver os versos? Ainda por cima junto com o senhor, eu para ofender e o senhor para ameaçar o moço, na loja, na vista de meio mundo. Não fica bem nem para mim nem para o doutor.

- Eu lhe digo porquê. Se não cortarmos de imediato as asas desse idiota, ele vai ficar atrevido, meter-se a besta, e eu não admito que alguém a importune. Ou será que você preza tanto esses versos a ponto de desejar guardá-los?

- Disse que acho os versos bonitos, acho mesmo, não vou mentir, para meu pouco saber qualquer latão é ouro. Mas eu também disse que só guardei para mostrar ao senhor, vou devolver pelo correio como recebi, assim não ofendo quem não me ofendeu.

Livre de qualquer resquício de irritação, Emiliano Guedes sorri:

- Perfeito, Tereza, você tem melhor cabeça do que eu. Nunca aprenderei a me controlar. Tem razão, deixa o poeta para lá, pobre diabo. Eu estava querendo ir à loja para humilhar o coitado, quem se humilhava era eu.

Levanta a voz para chamar Lula e ordenar gelo e bebidas:

- Tudo porque acho que ninguém tem o direito de pousar os olhos em você, um absurdo. (clik na imagem)

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