sábado, setembro 17, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 208


Acusando-o de espionagem, a brincar, Tereza pergunta a Emiliano como obtém tais informações se permanece ausente de Estância a maior parte do tempo. Embora tendo Alfredão regressado à usina, ainda o doutor anda a par dos disse-que-disse.

- Sei tudo, Tereza, acerca de todos aqueles por quem me interesso. Não só sobre você, Favo-de-Mel. Sei tudo a respeito de cada um dos meus, o que fazem, o que pensam, mesmo quando nada digo e finjo não saber.

Um travo na voz de Emiliano? Simulando medo e susto, Tereza busca afastá-lo de preocupações, negócios, amarguras, tenta fazê-lo rir:

- O doutor me arranja tantos candidatos, parece até que deseja se ver livre de mim…

- Favo-de-Mel, não diga isso nem por brincadeira, eu lhe proíbo. – Beija-lhe os olhos: - Você nem se dá conta da falta que me faria se um dia fosse embora. Por vezes temo que você se canse daqui, sempre sozinha, a vida estreita, limitada, triste.

Tereza abandona o tom de troça, torna-se séria:

- Não acho minha vida triste.

- É verdade, Tereza?

- Não me falta que fazer quando o senhor não está: a casa, a minada, as lições, experimento receitas na cozinha para quando o doutor voltar, ouço rádio, aprendo as músicas, não me sobra um minuto…

- Nem para pensar em mim?

- No doutor eu penso o dia inteiro. Se demora a chegar, aí sim eu fico triste. De ruim só tenho isso em minha vida, mas eu sei que não pode ser de outra maneira.

Gostaria que eu ficasse para sempre, Tereza?

- Sei que não pode ficar, de que adianta querer? Não penso nisso, me contento com o que me cabe.

- O que eu lhe dou é pouco, Tereza? Falta-lhe alguma coisa? Porque nunca me pede nada?

- Porque não gosto de pedir e porque nada me falta. O que o senhor me dá é demais, não sei o que fazer com tanta coisa. Não falo disso, o senhor bem sabe.

- Sei, sim Tereza. E você? Você também sabe que para mim também é triste esse ir e vir? Ouça uma coisa, Favo-de-Mel: creio que não me acostumaria mais sem você. Quando estou longe, só tenho um desejo: estar aqui.

Seis anos, uma vida, tanta coisa a recordar. Tanta coisa?

Quase nada, pois de dramático e grave nada sucedera, nenhum acontecimento sensacional a merecer página de romance, apenas a vida a decorrer em paz.

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