terça-feira, outubro 04, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA





Episódio Nº 221



Parece vivo mas está morto, acabou-se o patrão, por fim Túlio Bocatelli é um homem rico; custara-lhe caradura, cinismo e paciência.

Da sala chegam vozes de mulheres e homens, entre elas a do padre Vinícius. Túlio entra no quarto, deixando a porta livre à passagem de Aparecida Guedes Bocatelli. O decote do vestido de baile exibe-lhe os seios alvos e pujantes, abre-se atrás o rego da bunda. Apa é o retrato do pai, o mesmo rosto sensual, uma beleza forte, quase agressiva, a boca sôfrega igual à de Emiliano, mas, na dele, a avidez estava coberta de prata pelos bastos bigodes. Bastante alterada, Aparecida vacila ao andar. No baile pouco bebera, interessada na dança, par constante de Olavo Bittencourt, jovem médico psicanalista, amor recente. Apa gosta de variar. Mas, durante a viagem para estância, emborcara quase uma garrafa inteira de uísque.

Apoia-se no braço de Olavo. Ao enxergar, porém, o corpo do pai, mal iluminado pelos tocos das quatro velas e pela dúbia claridade da antemanhã, cai de joelhos junto à cama, ao lado da cadeira onde Tereza está sentada.

- Ai, Papi!

Nem por ser tua filha tiveste contemplação por ela, Emiliano, usando o nome certo e cru ao designá-la puta, mas não lhe puseste a culpa, culpando antes o teu sangue e tua estirpe, ah! se ao menos ela houvesse nascido homem!

Os soluços rebentam no peito de Aparecida, ai, Papi! Estende as mãos e toca o corpo do pai; andavas triste, deixaste de me tomar ao colo, de acariciar os meus cabelos, de me chamar rainha e de velar meu sono, meu sono e meu destino. Ai, Papi!

Curvado sobre ela, solidário, o jovem mestre do subconsciente e dos complexos, pronto a socorrê-la com um comprimido, um barbitúrico, uma injecção, um aperto de mão, um olhar apaixonado, um beijo furtivo. Do canto do quarto, Túlio, acompanha com interesse a emoção de Aparecida, mas abstém-se de intervir. Não por indiferente ao sofrimento da esposa, mas, sendo homem de experiência e classe, sabe que nessas horas um médico e um amante, são de mais utilidade, de maior conforto. Ainda melhor se médico e amante se fundem no mesmo galante par de dança, um pobre tipo metido a irresistível. Em assuntos de tal delicadeza, Túlio Bocatelli é perfeito de finura e tacto.

Contudo, os olhos lacrimosos de Aparecida, ao levantarem-se à procura de socorro e segurança, não buscam o amante e, sim, o marido. Se há na família alguém capaz de levar o barco avante e de assumir o comando e garantir a continuação da festa, esse alguém é o filho do porteiro do palácio do conde Fassini, em Roma, Túlio Bocatelli, o único. Ele sorri para Aparecida, um elo forte os une, o interesse quase tão forte quanto o amor.

Um grupo barulhento discute com o padre na sala de jantar. Eleva-se, esganiçada, voz feminina:

- Não entro enquanto essa mulher não sair do quarto. Sua presença junto dele é uma afronta à pobre Íris e a todos nós.

- Calma Marina, não se exalte… - Vacilante voz de homem, quase inaudível.

- Entre você, se quiser, está acostumado a conviver com prostitutas, eu não. Tire essa mulher de lá.

A esposa de Cristóvão, com certeza. O marido, um bêbado, ela, a Marina das cartomantes, a perseguir a rapariga e os filhos naturais do esposo, encomendando feitiços mortais, escrevendo cartas anónimas, cuspindo insultos pelo telefone, vivendo para isso, uma mulherzinha, Tereza, de canto de rua… (clik na imagem)

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