domingo, outubro 02, 2011

Hoje é



Domingo
(Da minha cidade de Santarém)





Neste final de Verão pelas temperaturas mas já mergulhados no Outono por força do calendário, dou-me conta, sentado na mesa do meu Café, que os tempos que se aproximam são um enigma total ao contrário de outros, mesmo relativamente recentes, em que nada esperávamos de verdadeiramente surpreendente, para o bem ou para o mal, embora o futuro tenha sido sempre um enigma, um desconhecido, mas nunca ameaçador como este.

Embora muitas vezes não resista à tentação de falar em “outros tempos” ou ainda no “meu tempo”, porque estes tempos são tanto meus como os outros o foram, parece-me, pelo grau de insegurança que sinto – bom seria que fosse só eu – que a situação é agora qualitativamente diferente para pior. A solução escapasse-nos, por muitos sacrifícios que façamos dependemos dos outros, os credores têm-nos na mão, os nossos ordenados e as nossas pensões dependem do cumprimento das obrigações assumidas com a “troika” que há-de dar luz verde à passagem do cheque, conforto das nossas vidas.

Felizmente, não consigo perder a esperança. Quando há quase cinquenta anos, embarquei no Paquete Vera Cruz para a guerra de Angola a esperança de regressar vivo era quase total e julgo que era esse o sentimento da esmagadora maioria dos meus camaradas. Aliás, não consigo conceber a vida sem esperança, seria uma coisa atroz tantos os riscos que nos rodeiam.

Vinte e sete meses depois, no regresso, feito o balanço à descida das escadas do portaló do mesmo paquete que nos levara, e dando de barato que basta a morte de um homem para toda a humanidade morrer para ele, a esmagadora maioria estava certa quanto à esperança de regressar viva.

A esperança é uma fonte de vida, a maior creio eu, a que nos dá forças para lutar, nos tira do desalento, nos segreda ao ouvido a ideia de que as coisas podem melhorar, sejam elas quais forem.

Pior que tudo seria o sol não nascer amanhã como temiam os nossos antepassados receando ficar para sempre mergulhados na escuridão da noite.

Sabemos hoje, garantidamente, que isso não irá acontecer: a lua irá deitar-se e o sol despertar para voltar a iluminar-nos. Conhecemos um mundo de coisas com as quais eles nem sonhavam, somos mais sábios, não sei se mais felizes, temos outro tipo de temores e eu a garantia de que já ficou muito para trás no tempo o risco de morrer com uma bala na guerra de Angola…

Portanto, tenhamos esperança.


Bom Domingo para todos.


(clik na imagem do recemconstruido Jardim da Liberdade)

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