sábado, outubro 08, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA




Episódio Nº 225




Tulio Bocatelli nascera realmente num palácio de um conde, onde o pai acumulava as funções de porteiro e de chofer. Menino ainda, abandonou os húmidos porões do casarão e foi em frente, em busca da fortuna fácil. Passou por maus pedaços, curtiu cadeia. Três raparigas faziam o trottoir para vesti-lo e alimentá-lo, quando ele completou dezoito anos.

Foi porteiro de cabaré, leão de chácara, guia de turistas para espectáculos de cinema-cochon com lésbicas e surubas, ascendeu a gigolô de velhas norte-americanas, tinha boa estampa. Levava vida fácil, mas não se sentia contente.

Queria riqueza de verdade e segurança, não apenas algum dinheiro, sempre escasso e incerto. Aos vinte e oito anos com um pé na frente e outro atrás, veio para o Brasil, no rasto de um primo, um tal de Storoni, que dera o golpe do baú casando-se com paulista rica.

De São Paulo, para causar inveja aos parentes pobres, o primo enviava fotos da fazenda de café, de zebus campeões, de prédios na cidade, recortes de jornais com notícias de festas e jantares. Essa, sim, a dolce vita dos sonhos de Túlio, a fortuna segura e verdadeira, fazenda, gado, casas, conta bancária.

Desembarcou de uma terceira classe no porto de Santos, com dois ternos, a estampa e o título de conde.

Aos seis meses de estada no Brasil foi apresentado pela mulher do primo a Aparecida Guedes, numa festa no Rio de Janeiro. Namoro, noivado, casamento, sucederam-se num abrir e fechar de olhos. Já era tempo, Storoni não estava disposto a sustentar vagabundo, mesmo sendo patrício e primo.

De volta dos Estados Unidos, chegando à Bahia para conhecer a família da esposa, Túlio abriu mão do sangue azul, do título de conde, se bem todo o romano seja nobre, conforme se sabe.

Faltou-lhe audácia, os olhos de Emiliano causavam-lhe calafrios. A ele se apresentou modesto rapaz, pobre mas trabalhador, à espera de oportunidade.

- Eu tinha decidido mandar matá-lo, na usina. Mas vendo minha filha tão feliz e me lembrando de Isadora, tão pobre e tão direita, resolvi dar uma chance ao carcamano. Disse a Alfredão para recolher a arma, o serviço tinha sido adiado. Para quando ele se comportar mal com Apa, fazendo minha filha sofrer.

Quem começou a se comportar mal foi ela, pondo-lhe os chifres a torto e a direito. Ele bem do seu, pagando-lhe na mesma moeda, cada qual agindo como lhe dava na telha, mas estranhamente amigos, alegres e unidos, vivendo em harmonia, um fim de mundo. Por mais me esforce, Emiliano não entende:

- Cabrão de semente… Corno manso.

O genro um chifrudo, e a filha? Apa, a filha única, a predilecta. Vou fazer de Jairo um comandante, de Aparecida uma rainha. O comandante dera em gatuno, a rainha em puta. Degradada na mão desse indivíduo dissoluto, amoral, despido de qualquer resquício de decência. Mandar matá-lo? Para quê, se a filha não merece melhor marido, se vivem contentes um com o outro?

Têm em comum os filhos, dois meninos, os interesses financeiros e o descaramento.

Ao demais, se o matasse, quem restaria para conduzir o barco quando o doutor morrresse? (clik na imagem)

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