terça-feira, novembro 15, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE



GUERRA


Episódio Nº 257


Qual o seu nome completo e verdadeiro. Talvez ninguém o saiba em toda a zona, e no entanto, Vavá reina há cerca de trinta anos. Um repórter com veleidades literárias e conotações sociológicas, autor de uma série sobre prostituição, o designara Imperador do Mangue, mas não lhe descobrira família e procedência.

Fosse um profissional dos antigos, menos cheio de si, teria ido aos arquivos da delegacia especializada folhear o livro das ocorrências, podendo encontrar igualmente no cartório de imóveis a assinatura de Walter Amazonas de Jesus. Nome honrado e sonoro, mas com Vavá lhe basta para ser ouvido e respeitado em toda a extensão da zona e mesmo além.

Mais difícil ainda adivinhar-lhe a idade. Parece ter existido sempre, plantado ali, no Maciel, naquele sobradão, de início inquilino, posteriormente proprietário exclusivo, assim com de outros das vizinhanças; considera os imóveis excelente aplicação de capital, sobretudo se localizados na área do meretrício.

O repórter referia-se a “ruas de casas” adquiridas por Vavá. Força de expressão, sem dúvida. Se bem só o próprio cafetão conheça o número exacto, não devem passar de quatro ou cinco entre casas e sobrados. De qualquer maneira, apreciável mensal.

Sobradão de três andares, o térreo arrendado a um armazém de secos e molhados, nos de cima o imenso prostíbulo, cada quarto subdivido em dois ou mais. Poderoso e temido, Vavá administra seus bens e dirige o bordel da cadeira de rodas que ele mesmo manobra e movimenta através da sala, corredores e quartos.

Aleijado das duas pernas, atrofiado pela paralisia infantil, corcunda, a cabeça desmedida, ser informe, a vida concentrada nos olhos desconfiados e espertos e nas grandes mãos fortíssimas: quebra entre as juntas dos dedos avelãs e nozes.

Quase sempre próximo ao patrão, Amadeu Mestre Jegue, ex-jogador de boxe, mantém a ordem no estabelecimento e transporta Vavá ao último andar, na obrigatória inspecção diária.

Do meio-dia às quatro da manhã, o movimento é intenso, constante. Mulherio numeroso, freguesia ainda mais numerosa, sempre cheia a sala de espera, onde o delicado Greta Garbo serve bebidas.

Quando não se encontra na sala, atento ao movimento, Vavá permanece em amplo e confortável aposento do primeiro andar, ao mesmo tempo escritório e quarto de dormir: a cama de casal, o lavatório, a escrivaninha, o rádio, a vitrola, os discos, o peji do santo onde está sentado Exu Tiriri.

Cuida do encantado com o maior desvelo, de grande valia ele lhe tem sido. Sem a protecção de Exu, há muito Vavá tinha entrado pelo cano, cercado como vive, de inveja, cobiça e traição. Muita gente de olho em seu dinheiro.

Gente inclusive da polícia. Apesar dos pagamentos efectuados religiosamente todos os meses ao comissário Labão e a um regimento de tiras, inventam misérias para explorá-lo. Polícia não tem palavra nem compostura.

Uma vez, invadiram-lhe o sobrado em companhia de prepostos da vara de menores, exibindo ordem do juiz. Levaram-lhe nada menos que sete raparigas entre os catorze e os dezassete anos.


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