segunda-feira, novembro 14, 2011

TEREZA

BATISTA

CANSADA

DE

GUERRA



Episódio Nº 256


18

No reino do bacharel Hélio Cotias, delegado de Jogos e Costumes, o movimento é normal. No labirinto das ruas mal iluminadas as mulheres buscam fregueses, oferecem-se, chamam, convidam, palavras indicando especialidades, um ciclo, um rogo.

Nas portas e janelas expõem a mercadoria à venda, seios e coxas, nádegas e vulvas, produtos baratos. Algumas arrumadas, o rosto pintado, a clássica bolsa, dirigem-se à Rua Chile, em cujos hotéis se hospedam habitualmente fazendeiros e comerciantes vindos do interior.

Nos botequins, os fregueses de todos os dias e os eventuais, a cerveja, o conhaque, a batida, a cachaça. Cafetões, gigolôs, alguns artistas, os últimos poetas de musa romântica.

No Flor de São Miguel, alto, loiro, de cavanhaque, o alemão Hansen desenha cenas, figuras, ambientes, enquanto palestra com as marafonas, todas suas amigas, conhece a vida de cada uma.

Nos cabarés, os conjuntos, os jazes, os pianistas, atacam as músicas de dança, os pares ocupam as pistas no fox, na rumba, no samba, na marcha. Vez por outra um tango argentino.

Entre as onze e a meia-noite exibem-se cantoras, bailarinas, contorcionistas, todas de última classe. Aplaudidas aguardam convites para o fim da noite, cobram um pouco mais caro, questão de status.

A vida fermenta no passar das horas, a freguesia cresce entre as nove e as onze, quando volta a diminuir. Velhos e moços, homens maduros, pobres e remediados, um ou outro rico vicioso (os ricos regra geral, utilizam os castelos confortáveis e discretos, quase sempre na viração da tarde), operários, soldados, balconistas, estudantes, gente de toda as profissões e os profissionais da boémia envelhecendo nas mesas dos botequins baratos, dos melancólicos cabarés, no xodó das raparigas. Noite ruidosa, trepidante, cansativa, por vezes marcada de ânsia e de paixão.

Na hora de maior animação, algumas granfinas curiosas, em companhia dos maridos e amantes, cruzam as ruas da zona excitando-se com o movimentado espectáculo da prostituição, as mulheres semi-nuas, os homens penetrando nos bordéis, os palavrões insultuosos. Ah! Que delícia seria fazer amor, em cama de puta. Um frio na espinha.

Na altura da passagem do automóvel do doutor delegado, nos desvãos desse vasto reino, movem-se algumas figuras apressadas de homens e mulheres. Tereza Batista e o detective Dalmo Garcia, vindos de pontos diversos atingem ao mesmo tempo a porta do imenso castelo de Vavá.

Ao transpor o batente em direcção à escada, o policial se detém a olhar a mulher: é a sambista do Flor de Lótus, um pedaço de morena. Passou a fazer vida por conta de Vavá?

Reservadíssima, metida a besta, segundo o colega Peixe Cação, está agora dando sopa no maior bordel da Bahia? Que sucedera? Um desses dias, com calma, o detective Dalmo Coca tirará a limpo as afirmações de Cação Papa-Filha, hoje não dispõe de tempo. Assunto importante o traz à presença de Vavá. Avança para a escada, Tereza espera na rua alguns minutos.


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