TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 279
Não sei… Não tem ninguém e as mulheres e as mulheres parece que levaram fim. Onde podem estar?
Na rua quase deserta, o cego Belarmino habituê há muitos anos daquele rendoso posto de esmolas, arruma a cuia, o jornal, o sanduíche para o lanche, ajudado pelo menino. Toma do cavaquinho, começa a cantoria, habitualmente nunca deixa de haver dois ou três curiosos a ouvir:
Da mulher tem cu
E a galinha sobrecu
Da mocinha quero os peitos
mulher o racha-cu
Camões Fumaça, cada vez gostando menos daquilo tudo ordena ao sócio, um pigmeu silencioso, sentado ao volante da velha caçamba.
- Vamos embora daqui…
O detective Dalmo toma assento, a repetir abobado:
- Onde diabo as mulheres se meteram, oxente?
39
Algumas permaneceram nas pensões aproveitando a folga para remendar vestidos, escrever para casa, cartas cheias de mentiras, ou simplesmente para descansar. No limite do meretrício, em leito de pensão, de castelo, de bordel, até nova ordem nenhuma rapariga pode receber freguês, tampouco amante.
Quem quiser se fretar com seus xodós vá para a rua, longe da zona. Romper o tácito compromisso assumido na véspera, quem se atreve? Exu anunciara doença e morte, cegueira, lepra, necrotério.
As raparigas postas em liberdade pela manhã tentaram regressar às casas invadidas, ou bem para nelas continuar habitando ou para recolher roupas e objectos, mas os guardas postados na Barroquinha não permitiram a entrada de nenhuma delas. Buscaram asilo em pensões conhecidas, só dona Paulinha de Sousa recolheu doze, quatro em cada casa. Meteu a mão na bolsa, quis enviar a negra Domingas para São Gonçalo dos Campos.
- Está precisando de uns dias de descanso, menina. Lhe maltrataram.
Mas a negra não aceitou por nada sair da Bahia naquela hora, estavam ela e Maria Petisco seriamente preocupadas: Oxossi e Ogum, habituados a descer na Barroquinha, saberiam onde encontrá-las?
- Amanhã é dia deles.
- Vocês pensam que os encantados não sabem onde vocês estão? Na Barroquinha, aqui ou em São Gonçalo, Ogum vai-lhe montar.
A maioria resolveu ir passear e a cidade se encheu de risos, de alegria e graça. Pareciam operárias, comerciarias, estudantes, donas-de-casa, mães-de-família em feriado, em dia-santo-de guarda. A fazer compras, nos cinemas assistindo às matines, passeando nos bairros mais distantes, aos pares, em pequenos grupos álacres, de braço dado com os rabichos, arrulhando, uma quantidade de gentis meninas, de garridas moças, de senhoras sérias e tranquilas.
Outras, foram visitar os filhos entregues a estranhos. Mães amantíssimas, conduzindo os rebentos ao colo ou pela mão, atochando-os de sorvetes, refrigerantes e bombons. De beijos e carinhos. (click na imagem)
Não sei… Não tem ninguém e as mulheres e as mulheres parece que levaram fim. Onde podem estar?
Na rua quase deserta, o cego Belarmino habituê há muitos anos daquele rendoso posto de esmolas, arruma a cuia, o jornal, o sanduíche para o lanche, ajudado pelo menino. Toma do cavaquinho, começa a cantoria, habitualmente nunca deixa de haver dois ou três curiosos a ouvir:
Da mulher tem cu
E a galinha sobrecu
Da mocinha quero os peitos
mulher o racha-cu
Camões Fumaça, cada vez gostando menos daquilo tudo ordena ao sócio, um pigmeu silencioso, sentado ao volante da velha caçamba.
- Vamos embora daqui…
O detective Dalmo toma assento, a repetir abobado:
- Onde diabo as mulheres se meteram, oxente?
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Algumas permaneceram nas pensões aproveitando a folga para remendar vestidos, escrever para casa, cartas cheias de mentiras, ou simplesmente para descansar. No limite do meretrício, em leito de pensão, de castelo, de bordel, até nova ordem nenhuma rapariga pode receber freguês, tampouco amante.
Quem quiser se fretar com seus xodós vá para a rua, longe da zona. Romper o tácito compromisso assumido na véspera, quem se atreve? Exu anunciara doença e morte, cegueira, lepra, necrotério.
As raparigas postas em liberdade pela manhã tentaram regressar às casas invadidas, ou bem para nelas continuar habitando ou para recolher roupas e objectos, mas os guardas postados na Barroquinha não permitiram a entrada de nenhuma delas. Buscaram asilo em pensões conhecidas, só dona Paulinha de Sousa recolheu doze, quatro em cada casa. Meteu a mão na bolsa, quis enviar a negra Domingas para São Gonçalo dos Campos.
- Está precisando de uns dias de descanso, menina. Lhe maltrataram.
Mas a negra não aceitou por nada sair da Bahia naquela hora, estavam ela e Maria Petisco seriamente preocupadas: Oxossi e Ogum, habituados a descer na Barroquinha, saberiam onde encontrá-las?
- Amanhã é dia deles.
- Vocês pensam que os encantados não sabem onde vocês estão? Na Barroquinha, aqui ou em São Gonçalo, Ogum vai-lhe montar.
A maioria resolveu ir passear e a cidade se encheu de risos, de alegria e graça. Pareciam operárias, comerciarias, estudantes, donas-de-casa, mães-de-família em feriado, em dia-santo-de guarda. A fazer compras, nos cinemas assistindo às matines, passeando nos bairros mais distantes, aos pares, em pequenos grupos álacres, de braço dado com os rabichos, arrulhando, uma quantidade de gentis meninas, de garridas moças, de senhoras sérias e tranquilas.
Outras, foram visitar os filhos entregues a estranhos. Mães amantíssimas, conduzindo os rebentos ao colo ou pela mão, atochando-os de sorvetes, refrigerantes e bombons. De beijos e carinhos. (click na imagem)
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