terça-feira, dezembro 20, 2011

TEREZA


BATISTA


CANSADA


DE


GUERRA






Episódio Nº 287




De revólver em punho, o comissário Labão Oliveira dirigiu pessoalmente o assalto ao bordel de Vavá. Galgou a escada à frente de alguns tiras de confiança, mandou pôr a porta abaixo, transpôs os batentes de entrada. Não havia vivalma nos dois andares do enorme sobradão. Cubículos desertos, silêncio absoluto. Onde se meteu o cafetão? Ah! Se o comissário o encontrasse, sabia como obrigá-lo a ditar contra-ordem, a decretar a abertura dos balaios. Contava fazê-lo, obtendo assim rápida vitória pois quem manda e desmanda na zona é Vavá, sua palavra é lei. Onde se escondeu o filho-da-puta do aleijado?

A um sinal de Labão, a porta do quarto é arrombada, os tiras invadem os aposentos do paralítico, nem sombras de Vavá. Raivosos, arrancam os lençóis da cama, rebentam objectos de uso e estimação, forçam a fechadura da escrivaninha, espalham e rasgam papéis, tentam abrir o cofre embutido na parede, não conseguem.

Recordando-se dos áureos tempos da repressão aos candomblés, quando ainda simples secreta contratado em promissor começo de brilhante carreira, o comissário Labão, a quem nada nos Céus e na Terra amedronta, dirige-se ao peji e começa a destrui-lo. Nenhum tira se atreve a ajudá-lo, cadé coragem? Alírio, secreta dos mais desassombrados, assassino frio, se apavora e grita:

- Comissário, não faça isso, não seja doido, não toque em Exu!

- Seus merdas! Cambada de pusilânimes! Estou cagando para Exu!

Voam tridente, lança e Ogô, os ferros sagrados de Exu, desfaz-se o monte de terra, seu assento, espalham-se pelo quarto comida e bebida: o xinxim de bode e as cabeças dos doze galos negros. Os tiras olham sem participar, o comissário reduz o peji a pandarecos Cospe com raiva e nojo:

- Que fazem aí parados? Vão botar as putas no trabalho, bando de covardes. Ou estão com medo das mulheres?

Olha o relógio. Dentro em pouco os marinheiros desembarcarão, o tempo urge.

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Arrastadas para a rua, as mulheres correm, escapam, metem-se pelos becos, desaparecem. Os soldados de cavalaria tentam mantê-las encurraladas, não é fácil. A perseguição se estende pela zona.

Os fregueses dos bares, tendo à frente o alemão Hansen, atiram garrafas vazias sob as patas dos cavalos, protestando contra a violência da Polícia. O poeta Telmo Serra ocupa o microfone da Rádio Grémio da Bahia, pronuncia a palavra vandalismo.

A zona está pegando fogo! – a frase de um dos locutores faz crescer o pânico na cidade, pois muitos ouvintes a entendem no sentido literal e não figurado, notícias de incêndio começam a circular. A luz dos flashes dos fotógrafos ilumina figuras de raparigas, algumas apavoradas, outras raivosas. Coberto de merda e mijo, fedor medonho, O detective Dalmo (Coca) Garcia abandona a liça.

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Para um apelo fadado a grande repercussão em toda a cidade, ocupa os microfones da Rádio Abaeté, “instalados no coração da batalha”, o vereador Reginaldo Pavão, “essa figura popular das lides políticas que aqui se encontra, enfrentando ao nosso lado considerável perigo, na benemérita tentativa de encontrar saída para a situação, cuja gravidade cresce a cada instante”.



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