quarta-feira, janeiro 25, 2012

GABRIELA


CRAVO


E


CANELA



Episódio Nº 5



A viagem por estrada de ferro levava três horas quando não havia atraso, pela estrada de rodagem podia ser feita em hora e meia.

Esse russo Jacob possuía caminhões, transportava cacau de Itabuna para Ilhéus. Moacir Estrela montara uma garagem no centro, também ele labutava em caminhões. Juntaram suas forças, levantaram capital num banco, assinando duplicatas, mandaram buscar as marinetes.

Esfregavam as mãos na expectativa de negócio rendoso. Isto é: o russo esfregava as mãos, Moacir contentava-se em assobiar. O assobio alegre enchia a garagem enquanto, nos postes da cidade, boletins anunciavam o próximo estabelecimento da linha de ónibus, viagens mais rápidas e mais baratas do que pelo trem de ferro.

Só que as marinetes demoraram a chegar, e quando, finalmente desembarcaram de um pequeno cargueiro do Loyd Brasileiro, ante a admiração geral da cidade, as chuvas estavam no auge e a estrada em situação de miséria.

A ponte de madeira sobre o rio Cachoeira, coração mesmo da estrada, estava ameaçada pela cheia do rio, e os sócios resolveram adiar a inauguração das viagens.

As marinetes novinhas ficaram quase dois meses na garagem, enquanto o russo praguejava numa língua desconhecida e Moacir assobiava com raiva. Os títulos venciam no banco, e se Mundinho Falcão não os houvesse socorrido no aperto o negócio teria fracassado antes mesmo de iniciar-se.

Fora o próprio Mundinho que procurara o russo, mandando-o chamar ao seu escritório, oferecendo-lhe sem juros, o dinheiro necessário. Mundinho Falcão acreditava no progresso de Ilhéus e o incentivava.

Com a diminuição das chuvas o rio baixara, e, apesar do tempo continuar ruim, Jacob e Moacir mandaram consertar por conta própria uns pontilhões, botaram pedras nos trechos mais escorregadios e iniciaram o serviço.

A viagem inaugural, com o próprio Moacir Estrela dirigindo a marinete, deu lugar a discursos e a piadas. Os passageiros eram todos convidados: o Prefeito, Mundinho Falcão, outros exportadores, o coronel Ramiro Bastos, outros fazendeiros, o Capitão, o Doutor, advogados e médicos.

Alguns, receosos da estrada, apresentaram desculpas diversas, os seus lugares foram ocupados por outros, e tantos eram os candidatos que acabou indo gente em pé.

A viagem durou duas horas – a estrada ainda estava muito difícil – mas correu sem incidente de maior monta. Em Itabuna, à chegada, houve foguetório e almoço comemorativo. O russo Jacob anunciara então, para o fim da primeira quinzena de viagens regulares, um grande jantar em Ilhéus, reunindo personalidades dos dois municípios para festejar mais aquele marco do progresso local. O banquete foi encomendado a Nacib.

“Progresso” era a palavra que mais se ouvia em Ilhéus e Itabuna naquele tempo. Estava em todas as bocas insistentemente repetida. Aparecia na coluna dos jornais, no quotidiano e nos semanários, surgia nas discussões na papelaria Modelo, nos bares, nos cabarés. Os Ilheenses repetiam-na a propósito das novas ruas, das praças ajardinadas, dos edifícios no centro comercial e das residências modernas na praia, das oficinas do Diário de Ilhéus, dos caminhões transportando cacau, dos cabarés iluminados, do novo Cine-Teatro Ilhéus, do campo de futebol, do Colégio do Dr. Enoch, dos conferencistas esfomeados vindos da Baía e até do Rio, do Clube Progresso com seus chás-dançantes. “É o progresso!” Diziam-no orgulhosamente, conscientes de concorrerem todos para as mudanças tão profundas na fisionomia da cidade e nos seus hábitos.

(imagem de Gabriela e Nacib protagonistas do romance de amor que, na opinião do autor, constitui o evento mais importante de toda a história)

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