quarta-feira, janeiro 04, 2012

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE

GUERRA
Episódio Nº 299


Já os navios norte-americanos haviam abandonado o porto da Bahia onde haviam permanecido três dias e três noites levando em seu bojo as últimas esperanças da vitalina Veralice de ser estuprada por ianque loiro de indomável estrovenga; já a velhíssima Vovó, devota e bochincheira fora esquecida na vala comum do cemitério das Quintas: já desaparecera das páginas dos jornais o polémico assunto do balaio fechado – e ainda permanecia Tereza na cana.

Nem sequer o pintor Jenner Augusto, com prestígio junto de algumas personalidades do governo, conseguiu libertá-la.

Posto a par do assunto ele se movimentou – e muito. Não somente ele mas também os demais artistas para quem ela posara de modelo e dos quais se fizera amiga. Promessas e mais promessas: hoje mesmo será solta, vá descansado. Pura conversa mole. Refém pessoal do investigador Nicolau Ramada Júnior, presa à sua ordem e disposição, devia continuar no xelindró até à volta do herói da Barroquinha até à plena actividade funcional e sexual, completamente reposto da inchação nos quibas.

Não se satisfizera ele com o espancamento na noite de baderna. Embora surra para valer, quatro homens se revezando no porrete, dela Peixe Cação participara em termos, os ovos doíam-lhe por demais, impedindo uma perfomance à altura. Não só queria voltar a bater, agora com as forças restauradas, mas sobretudo dela dispor à sua mercê, sem possibilidades de defesa, para fazê-la engolir o insulto gritado no Flor de Lotus, pondo-se nela, enrabando-a, fazendo-a chupar, lamber-lhe os bagos.

O pintor terminou por retar-se com tanta tapeação e adiamento, entregou a solução do assunto a um advogado amigo, doutor António Luís Calmon Teixeira, nas rodas de pesca submarina o recordista Chiquinho.

Caso de “habeas corpus”, entendeu o bacharel, mas quando ia a dirigir-se à justiça, eis que Tereza foi solta e logo várias autoridades reclamaram as palmas da vitória, o reconhecimento dos amigos da moça, todos se declarando responsáveis pela ordem de soltura.

Em verdade, a libertação de Tereza deveu-se a Vavá. Também ele se pusera em campo fazendo-o da maneira justa; entrou em contacto com a própria polícia de costumes. Espalhou um bocado de dinheiro, mas quem engoliu a bolada grande foi o comissário Labão, negociando no leito de dor, as pernas engessadas estendidas para cima, sessenta dias previsto naquela posição, disposto a diminuir de qualquer forma o prejuízo resultante do fracasso da maldita empresa turística.

Pediu alto para esquecer os agravos de Vavá e ordenar a libertação da arruaceira: no cálculo do preço teve em conta o facto da tipa estar presa na condição de espólio de guerra de um colega e amigo. Vavá pagou sem discutir.

Pagou sem discutir, pagou por amor e sem esperança, pois Exu voltara a repetir, após retornar ao peji em meio à obrigação festiva, não ser Tereza pitéu para o bico do aleijado.

Além disso, ele tomara informações e soubera de Almério das Neves nas encolhas, e de mestre Januário Gereba sumido no oceano. Nem assim a abandonou na cadeia a apodrecer, à espera da segunda parte da lição de bom comportamento.

Os intermediários foram e regressaram, finalmente Tereza viu a luz do dia, foi retirada da cafua.

Amadeu Mestre Jegue a recebeu na porta da Central e a conduziu aos aposentos de Vavá, onde Taviana, outra a movimentar conhecimentos e amizades, esperava, o coração aos saltos. Tereza perdera um pouco de cor e emagrecera muito. Nas coxas e nos peitos restavam marcas dos maus -
tratos, tinha sido para valer. No mais, risonha, grata, satisfeita com a briga, Tereza do Balaio Fechado. (click na imagem)

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