terça-feira, janeiro 10, 2012

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA







Episódio nº 304




Queixumes de amor sobrevoam Tereza insone largada sobre o madeirame, olhos secos de ausência, punhal fincado no peito, morto coração, a mão a tocar as águas do mar e do rio misturadas, o mar e o rio de Janu bem-querer.

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Quando o saveiro baixou a âncora na Rampa do Mercado, Tereza estava pronta para abandonar o porto da Bahia e embrenhar-se no sertão. No cais, a esperá-la, o bom Almério.

Pobre amigo, vai sofrer com a notícia, mas o pior de tudo será ficar ali refazendo os roteiros de Janu, olhando o mar onde ele viveu, tocando a madeira do veleiro em cujo leme ele pousou a mão.

Face aflita, voz embargada, Almério em desespero:

- Tereza, Zeques está doente, muito doente. É meningite. O médico diz que talvez não escape. – Um soluço foge-lhe do peito.

- Meningite?

Seguiu com Almério e na cabeceira do menino ficou dez dias praticamente de enfiada, sem dormir e sem comer, a cuidar dele.

Diplomara-se enfermeira no trato da bexiga. Tantas vezes lutara contra a morte, tantas vezes a vencera, Tereza da Bexiga Negra. Agora, morta ela própria, bate-se pelo órfão.

Doutor Sabino, um jovem pediatra, ao fim de alguns dias, sorri pela primeira vez. Ao receber os agradecimentos de Almério, aponta Tereza junto à cama do convalescente.

Ele deve a vida a dona Tereza, não a mim.

Vendo-os lado a lado, nos cuidados da criança, o doutor Sabino, com a impertinência dos moços, se intromete onde não é chamado:

- Se os dois são livres por que não se casam? É disso que o moleque mais precisa: mãe.

Disse e se foi, deixando-os um diante do outro. Almério levanta os olhos, abre a boca a medo, arrisca:

- Bem podia ser… Por mim é o que mais desejo.

Carregada de defuntos, morta, entregue, Tereza Batista se acabou.

Me dê tempo de pensar.

- Pensar mais o quê.

Companheira no trato do menino e da casa, pode ser. Mas na cama, aí, será apenas competente profissional e, sendo amiga de Almério e devendo-lhe gratidão, tendo-lhe estima, mais penoso e difícil se tornará o exercício da função. Mais cruel do que em lupanar de porta aberta nas estradas do sertão, do que na pensão de Gabi, na Cuia Dágua, em Cajazeiras. Terá forças para representar? Em cama de puta não é difícil, mas em leito de esposa será dura tarefa, ingrata obrigação.

Almério não lhe pede sequer amor, acredita poder ganhá-lo no passar do tempo. Quer apenas companhia para ele e o menino, cama igual à do castelo, interesse e amizade. Alegria ela não possui, não pode dar. Aí, já não lhe restam forças para pelejar, Tereza Batista Cansada de Guerra.

- Se aceita assim…

Almério atira-se padaria adentro a anunciar a nova. (click na imagem)

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