quarta-feira, janeiro 11, 2012

TEREZA
BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA



Episódio Nº 305


73

Um sorvete, de pitanga ou de mangaba, um refresco de caju ou de maracujá, genipapada? O doce em calda pode ser de jaca ou de manga, de banana em rodinhas, de goiaba. Prefere alua de abacaxi ou de xengibre? Um aracajé, um abará? São preparados por Agripina, ninguém os faz melhores. Aceite alguma coisa, tenho prazer em oferecer. Uma conversa para ser completa e boa, exige o acompanhamento de comer e beber, não lhe parece?

Sim, eu a conheço, aqui a tendo visto; nesta casa passa gente do mundo inteiro, meu senhor. O pobre e o rico, o velho experiente e o moço em fogo, o pintor de quadros e o de paredes, o abade do convento e a mãe-de-santo, o sábio modesto e o tolo enfatuado, todos vêm me apertar a mão, com todos eu converso, em qualquer língua, não me aperto – Deus criou os idiomas para a gente se entender e não para dificultar o conhecimento e a amizade entre as pessoas.

Acolho a todos com delicadeza, pois sou de fina educação baiana, e vou-lhes contando o quanto sei, o que aprendi nesses oitenta e oito anos já cumpridos, bem vividos.

Com quem se parece Tereza Batista, tão castigada pela vida, tão cansada de apanhar e de sofrer e, ainda assim, de pé, com todo o peso da morte no lombo, porfiando em arrancar da maldita uma criança para a vida? Pois eu lhe digo com quem se parece.

Sentada nesta varanda, vendo ao longe o mar do Rio Vermelho, olhando as árvores, algumas centenárias, a maioria plantada por mim e pelos meus, com essas minhas mãos que empunharam a carabina nas matas de Ferradas, nas lutas do cacau, recordando João, meu finado, um homem alegre e bom, cercada pelos meus três filhos, meus tesouros, e pelas três noras, minhas filhas e rivais, pelos netos, netas e bisnetos, por meus parentes e aderentes, eu, Eulália Leal Amado, Lalú, na voz geral da bem-querença, lhe digo, meu senhor, que Tereza Batista se parece com o povo e com mais ninguém. Com o povo brasileiro, tão sofrido, nunca derrotado. Quando o pensam morto ele se levanta do caixão.

Aceite um refresco de umbu, um sorvete de cajá. Se prefere uísque, também posso lhe servir, mas não lhe louvo o gosto.

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A festa do casamento de Tereza Batista foi tema de conversa e louvação durante longo tempo na cidade da Bahia. Rodolfo Coelho Cavalcanti celebrou-lhe a alegria e a grandeza num folheto de cordel, festa mais falada e referida, inesquecível.

Pela fartura da comedoria, havendo quatro mesas repletas em tudo. Numa delas, só comida de azeite e coco, do vatapá ao efó de folhas, as moquecas e os xinxins, o acarajé e o caruru, o quitandê tão raro, as frigideiras.

Nas outras, todo o género de quitutes: mal-assados, lombos, galinhas, conquéns e patos, os perus, vinte quilos de sarapatel, dois leitões, um cabrito, as travessas cheias e ainda sobrando na cozinha.
E as sobremesas? Melhor não falar, só espécies de cocada havia cinco.

Pela abastança de bebidas, garrafas e barris, chope, cerveja, batidas variadas, garrafões de vinho Capelinha, uísque, vermute, conhaque, a boa cachaça de Santo Amaro e os refrigerantes. No gelo, nas prateleiras dos armários sobrecarregados.

Doutor Nelson Taboada, Presidente da Federação das Indústrias mandou de presente ao noivo, benquisto associado, uma dúzia de garrafas de champanhe para o brinde após o sim.

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