sexta-feira, janeiro 13, 2012

TEREZA


BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA
Episódio Nº 307


As testemunhas de Almério são o banqueiro Celestino, que lhe fornece crédito e conselhos, o advogado Tibúrcio Barreiros, e doutor Jorge Calmon, director de A Tarde, gente da alta. No religioso o noivo manteve os mesmos do primeiro casamento.: Miguel Santana, um obá do Axé do Opô Afonxá, bom de cantiga e dança, patriarca outrora rico, tendo ajudado Almério nas aperturas do começo, e Taviana, proprietária do castelo onde ele por duas vezes foi buscar noiva.

Tendo sido tão feliz no casamento com Natália, por que mudar de padrinhos? Zeques, em plena convalescença, conduzirá as alianças.

Para celebrar a cerimónia religiosa, foi escolhido dom Timóteo, um beneditino, magro, ascético e poeta. Para o acto civil o desembargador Santos Cruz, naquele tempo ainda juiz em vara de família.

Estando de violão em punho, com certeza Dorival Caymmi cantará para a noiva, não lhe compôs uma modinha? Trouxe com ele dois rapazolas, ainda muito jovens, os dois com pinta de músico, um chamado Caetano, o outro Gil.

Quanto ao brinde aos nubentes, quem poderia fazê-lo senão o infalível vereador Reginaldo Pavão? Para essas circunstâncias de baptizado e matrimónio não existe orador mais indicado, é sem rival.

Só faltaram mesmo mestre Manuel e Maria Clara, o saveiro Flecha de São Jorge encontrando-se de viagem, em Cachoeira.

Tão pouco compareceu mestre Caetano Gunzá, se bem a barcaça ventania estivesse recebendo carga, fundeada em Água dos Meninos. Não era ele de festas, bastando-lhe a festa do mar e das estrelas.

Impossível noivo mais alegre. Traja roupa nova, terno branco de HJ inglês, luxos de abastado, de filho predilecto de Oxalá.

Pouco antes das quatro da tarde, hora marcada para o casamento, um portador apareceu trazendo aflito recado de Tereza – a noiva pede para Almério dar um salto urgente em casa de dona Fina, onde ela se prepara para as bodas.

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Em casa de dona Fina, Maria Petisco e Anália ajudam Tereza Batista a se vestir e enfeitar. Noiva mais jururu onde se viu? Prepara-se para a festa do matrimónio ou para o velório do próprio enterro?

Anália reclama com a amiga que não sabe dar valor à sorte. Ai, quem me dera, fosse eu a felizarda! Ando farta dessa vida de rameira, de cama em cama, de mão em mão, vendendo o corpo, gastando amor com xodós de pouca duração. Não viu Kalil? Tão bom moço, mas a largou para casar com uma prima, o sem vergonha. Anália não o culpa, para casar também ela romperia o rabicho inconsequente. Ah! Quem me dera, lar, filho e marido para mim somente e eu somente para ele. Ai, Tereza estivesse eu em teu lugar, estaria rindo pelos cotovelos, pelos dentes todos, rindo à tola. Maria Petisco concorda em parte. Para ela ser fiel a homem não é fácil, sobretudo com os encantados descendo nas camas sem perguntar o nome do dono do colchão, do travesseiro e da adormecida criatura.

Tereza vestida e penteada, Maria Petisco coloca-lhe ao pescoço um colar de Iansã, deslumbrante e encantado, símbolo da vitória na guerra contra os mortos presente de Valdeloir Rego, joalheiro dos orixás, levado por mãe Senhora no peji. Anália a conduz defronte ao espelho para ela se mirar, formosa porém triste. (click na imagem)

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