quinta-feira, janeiro 12, 2012

TEREZA

BATISTA
CANSADA
DE
GUERRA






Episódio Nº 306

Os fornos da Panificadora de Nosso Senhor do Bom Fim trabalharam sem cessar, mas não o fizeram para servir a população de Brotas, naquele dia postos à disposição da festa.

O feliz nubente, Almério das Neves, não é dono do próspero estabelecimento, em breve um empório? Um favorecido da sorte, um venturoso, nasceu com certeza empelicado; se fez por si, tem direito a celebrar com pompa seu segundo casamento.

Para a grande festa a Bahia inteira recebeu convite, e quem, por acaso, sobrou no esquecimento veio de penetra, não faltou ninguém.

Realizou-se na residência de Almério, vizinha à padaria embora até ao pé dos fornos dançassem convidados noite adentro.

Ao jazz-band Os Reis do Som, do cabaré Flor de Lotus, cabem louvores pela animação, mas o auge sucedeu passada a meia-noite, quando o Trio Eléctrico desembarcou na rua e a festa transformou-se em carnaval.

Unânime, compareceu a corporação dos panificadores, os monopolistas espanhóis e os concorrentes nacionais. Lá estavam os companheiros de Almério na confraria da Igreja do Bonfim e os do candomblé de São Gonçalo do Retiro, onde ele tinha posto e título na casa de Oxalá.

Sentada numa cadeira de braços de alto espaldar, mãe senhora rodeada pela corte de obás. Representações de outros candomblés, a mãe-pequena Creusa, figurando mãe Menininha do Gantois, Olga de Alaketu toda nos trinques. Eduardo de Ijexá, mestre Didi e Nezinho de Muritiba, vindo especialmente. Os artistas para quem Tereza posara, Mário Cravo, Carybé, Genaro, Mirabeau e aqueles ainda esperando vez e ocasião, ai nunca mais! Entre eles, Emanuel, Fernando Coelho, Willys e Fernando Teixeira, que pelo nome, por ser maranhense e bom de prosa, recorda a Tereza o amigo Flori Pachola, do Paris Alegre, em Aracaju. Junto com os artistas, os literatos a gastar uísque, escolhendo marcas, uns perdulários, uns snobes: João Ubaldo, Wilson Lins, James Amado, Idásio Tavares, Jehová de Carvalho, Cid Seixas , Guido Guerra e o poeta Telmo Serra.

O alemão Hansen e os arquitectos Gilberto Chaves e Mário Mendonça escutam, atentos, mestre Calá contar pela milésima vez a história verídica da baleia que embocou no rio Paraguaçu e engoliu um canavial inteiro. Se alguém tiver ocasião de se encontrar com o gravador do lírico casario e das bravias cabras, aproveite para ouvir a história, quem não a ouviu não sabe o que perdeu.

Assim postos os nomes, parec3e ter havido excesso de homens e falta de mulheres. Engano pois cada um deles estava com a esposa, alguns com mais de uma. Em nome de Lalu, dona Zélia levou perfume para a noiva e no próprio nome um anel de fantasia, dona Luísa, dona Nair, e dona Norma levaram flores. E as mulheres da vida, essas não contam?

Sérias, quase solenes, trajadas com muita discrição, as caftinas. Senhoras de alto gabarito: Taviana, a velha Acácia, Assunta, dona Paulina de Sousa, de braço dado com Ariosto Alvo Lírio. Modestas, retraídas, umas tímidas meninas, as raparigas, algumas com os xodós ao lado. Uma princesa, a negra Domingas, favorita de Oguim.

Num canto da sala, quase escondido pela cortina da janela e por Amadeu Mestre Jegue, Vavá na cadeira de rodas. Tereza o escolhera para padrinho ante o juiz juntamente com dona Paulina, Toninha e Camafeu de Oxossi. No padre, o pintor Jenner Augusto e a esposa, fidalga sergipana de autênticos pergaminhos e, vejam só! sem preconceitos.

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