sexta-feira, fevereiro 17, 2012

GABRIELA

CRAVO

E

CANELA


Episódio Nº 25

Emílio sorrira, chupando o charuto:

- E está ganhando dinheiro – Não devíamos – falava agora para Mundinho – ter permitido que partisses. Mas quem podia adivinhar que o nosso jovem galã tinha jeito para negócios? Aqui nunca revelaste gosto senão para a esbórnia. E, quando te foste, levando teu dinheiro, que podíamos imaginar senão mais uma loucura maior que as outras? Era esperar a tua volta para encaminhar-te na vida.

A mãe concluíra quase irritada:

- Ele não é mais um menino. – Irritada com quem?

Com Emílio por dizer tais coisas, ou com Mundinho que já não vinha solicitar-lhe mais dinheiro após esbanjar a mesada gorda?

Mundinho deixava-os falar, gozava aquele diálogo. Quando eles não tiveram mais o que dizer, então anunciou:

- Penso meter-me na política, fazer eleger-me qualquer coisa. Deputado, talvez… Pouco a pouco estou a tornar-me um homem importante da terra. Que pensas, Emílio, de me veres subindo à tribuna para responder a um desses teus discursos de adulação ao Governo? Quero vir pela oposição…

Na grande sala austera da residência familiar, os móveis solenes, a mãe a dominá-los como uma rainha, os olhos altivos, a cabeleira branca, estavam os três irmãos a conversar.

Lourival, cujas roupas vinham de Londres, jamais aceitaria deputação ou senatoria. Mesmo um Ministério recusara quando convidado. Governador de São Paulo, quem sabe?, aceitaria se fosse escolhido por todas as forças políticas.

Emílio era deputado federal, eleito e reeleito sem o menor esforço. Muito mais idosos os dois que Mundinho, espantavam-se agora de vê-lo homem, gerindo seus negócios, exportando cacau, obtendo lucros invejáveis, falando daquela terra bárbara onde fora se meter, ninguém jamais pôde saber por que motivo, anunciando-se deputado em breve.

- Podemos te ajudar – disse paternalmente Lourival.

- Faremos botar teu nome na chapa do Governo, entre os primeiros. Eleição garantida – completou Emílio.

- Não vim aqui para pedir, vim aqui para contar.

- Orgulhoso, o rapazinho… - murmurou Lourival desdenhoso.

- Sozinho, não te elegerás – previu Emílio.

- Sozinho vou me eleger. E no terço da oposição. Governo, só quero ser lá mesmo em Ilhéus. Governo que vou tomar, não vim aqui para solicitá-lo a vocês, muito obrigado.

A mãe alteou a voz.

- Podes fazer o que quiseres, ninguém te impede. Mas porque te levantas contra teus irmãos? Porque se separas de nós? Eles só querem ajudar, são teus irmãos.

- Não sou mais menino, a senhora mesmo disse.

Depois contou de Ilhéus, das lutas passadas, do banditismo, das terras conquistadas a bala, do progresso actual, dos problemas.

- Quero que me respeitem, que me mandem falar em seu nome, na Câmara. Que me adiantaria se vocês me metessem numa chapa? Para representar a firma, basta Emílio. Sou um homem de Ilhéus.
(click na imagem do Aeroporto de Ilhéus, Jorgr Amado, cujo busto, logo à entrada, foi inaugurado em 13 de Agosto de 2010 em comemoração do aniversário do escritor que completaria 98 anos a 10 de Agosto.)

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