quinta-feira, maio 17, 2012


GABRIELA
 CRAVO
 E
 CANELA

Episódio Nº 100


Não tinham ainda os relógios anunciado as cinco da tarde, a Mesa de Rendas em pleno movimento, quando Nhô-Galo, na mão um exemplar do diário de Ilhéus, entrou no bar alvoraçado. Nacib serviu-lhe um vermute, preparava-se para falar na nova cozinheira, mas o outro elevava a voz fanhosa:
 - A coisa começou!

 - O quê?
 - É o jornal de hoje. Acaba de sair. Leia…

Estava na primeira página, artigo gordo.
O título ocupava quatro colunas: «O ESCANDALOSO ABANDONO DA BARRA». Descompostura em regra na Intendência, em Alfredo Bastos, «deputado estadual eleito pelo povo de Ilhéus para defender os sagrados interesses da região cacaueira», esquecido desses interesses, cuja eloquência franzina só se fazia ouvir para celebrar os actos do governo, «parlamentar do muito bem e apoiado!», no Intendente um compadre do coronel Ramiro, «inútil mediocridade, servilismo exemplar ao cacique, ao manda-chuva», culpando os políticos no poder pelo abandono da barra de Ilhéus.
O artigo tinha como pretexto o encalhe do Ita na véspera.

«O maior e mais premente problema da região, aquele que é o vértice e o cume do progresso local que significará riqueza e civilização ou atraso e miséria, o problema da barra de Ilhéus, ou seja, o magno problema da exportação directa do cacau», não existiam para os que haviam «em circunstâncias especiais abocanhado os postos de mando».
E por aí vinha, verrina terrível, terminando numa evidente alusão a Mundinho, ao lembrar que, no entanto, «homens de elevado sentido cívico estavam dispostos, ante o criminoso desinteresse das autoridades municipais, a tomar o problema em suas mãos e a resolvê-lo.

O povo, esse glorioso e itimorato povo de Ilhéus de tantas tradições, saberia julgar, castigar e premiar!»

 - Menino … a coisa é seria…

- Escrito pelo Doutor.
 - Parece mais de Ezequiel.
 - Foi o Doutor. Tenho a certeza. Dr. Ezequiel estava bêbado ontem, no cabaré. Vai dar uma confusão…
 - Confusão! Você é um optimista. Vai haver o diabo.
 - Desde que não comece hoje, aqui no bar.
 - Porquê aqui?
- E o jantar das marinetes, você esqueceu? Vai vir todo o mundo: o Intendente, Mundinho, o coronel Amâncio, Tonico, o Doutor, o Capitão, Manuel das Onças; até o coronel Ramiro Bastos disse que talvez viesse.
 - O coronel Ramiro? Não sai mais de noite.
 - Disse que viria. É homem danado e agora vem mesmo, você vai ver. É capaz do jantar terminar em briga…
Nhô-Galo esfregava as mãos:
 - Vai ser divertido… – voltava para a Mesa de Rendas, deixando Nacib preocupado. O dono do bar era amigo de todos precisava manter-se afastado daquela  luta política.
(Click na imagem da jovem toda florida)

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