CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 106
E nada mais se passou. Apenas todos
compreenderam que Mundinho assumira, a partir daquele dia, a chefia da oposição
e começara a luta.
Não mais uma luta como a de antes, do
tempo da conqui sta da terra. Agora
as repetições e as tocaias, os cartórios queimados e as escrituras falsa não
eram decisivos. João Fulgêncio disse ao Juiz.
-
Em vez de tiros discursos… é melhor assim.
Mas o Juiz duvidava.
-
Isso acaba mesmo é em bala, você vai ver.
O coronel Ramiro Bastos retirou-se logo,
acompanhado de Tonico. Outros espalharam-se pelas mesas do bar, continuaram a
beber. Formou-se uma roda de pocker, no reservado, alguns dirigiam-se para os
cabarés. Nacib ia de grupo em grupo activando os empregados, a bebida corria.
No meio de toda aquela atrapalhação,
recebeu, trazido por um moleque, um bilhete de Risoleta. Ela queria vê-lo sem
falta naquela noite, ia esperá-lo ao Bataclan.
Assinava «sua bichinha Risoleta»; o
árabe sorriu satisfeito ; junto à caixa estava o pacote para Gabriela: um
vestido de chita, um par de sandálias.
Quando terminou a sessão de cinema o bar
encheu. Nacib não tinha mãos a medir. Agora as discussões em torno do artigo
dominavam as conversas. Ainda havia quem falasse no crime da véspera, as
famílias elogiavam o prestidigitador. Mas o assunto, em quase todas as mesas,
era o artigo do diário de Ihéus.
O movimento durou até tarde, era mais de
meia-noite quando Nacib fechou a caixa e dirigiu-se ao cabaré. Numa mesa com
Ribeirinho, Ezequi el e outros, Anabela
pediu opiniões para o seu Álbum. Nhô-Galo, romântico, escreveu. «Tu és, ó
dançarina, a encarnação da própria arte» O Dr. Ezequi el,
num pileque grandioso, acrescentara, a letra tremida. «Quem me dera ser gigolô
da arte».
O Príncipe Sandra fumava, sua longa
piteira, imitação de marfim. Ribeirinho, muito íntimo, batia-lhe nas costas,
narrava-lhe as grandezas da sua fazenda.
Risoleta esperava Nacib. Levou-o para um
canto da sala. Contou-lhe amarguras: amanhecera doente, voltara-lhe uma
complicação antiga que infernava os dias, tivera de chamar o médico. E estava
sem dinheiro nenhum, nem para os remédios. Não tinha a quem pedir, não conhecia
quase ninguém. Recorria a Nacib, ele fora tão gentil naquela noite…
O árabe passou-lhe uma cédula,
resmungando; ela acariciou-lhe os cabelos.
-
Fico boa logo, dois três dias, mando te chamar…
Partiu apressada. Estaria mesmo doente
ou seria uma comédia para tomar-lhe o dinheiro, ir gastar com um estudante ou
um caixeiro numa ceia regada a vinho?
Nacib sentia-se irritado, esperava ir
dormir com ela, nos seus braços esquecer o dia melancólico de enterros,
trabalhoso e inqui eto de banquete e
intrigas políticas. Dia de arrasar um homem. Terminando naquela decepção.
Segurava o pacote para Gabriela. As luzes se apagavam, a dançarina apareceu
vestida com suas penas. O coronel Ribeirinho chamava o garçon, comandava
Champanhe.
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