CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 120
Nunca fizera negócio mais vantajoso como
ao contratar Gabriela no «mercado de escravos». Quem diria ser ela tão
competente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e
formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?...
Naquele dia da chegada do engenheiro, a
curiosidade tomando conta do bar, apresentações e cumprimentos, elogios a
granel – é um nadador de primeira – quando todos os almoços se atrasaram em
Ilhéus, Nacib fizera dia por dia a conta do tempo decorrido desde o anúncio da
sua vinda. Gabriela voltava para casa após pedir:
-
Deixa eu ir no cinema hoje? Pra acompanhar D. Arminda…
Tirara da caixa uma nota de cinco mil
réis, generoso:
-
Pague a entrada dela…
Vendo-a partir esfogueada e risonha (ele
não parara de beliscá-la e tocá-la mesmo enquanto comia) contara os dias: três
meses e dezoito dias exactamente. De aperreação, cochichos, agitação, dúvida e
esperança para Mundinho e seus amigos, para o coronel Ramiro Bastos e seus
correligionários.
Com descomposturas nos jornais,
conversas segregadas, apostas, bate – bocas, surdas ameaças, um clima de tensão
em aumento. Havia
dias em que o bar parecia uma caldeira prestes a explodir.
Quando o Capitão e Tonico mal se
falavam, o coronel Amâncio Leal e o coronel Ribeirinho apenas se
cumprimentavam.
É para ver-se como são as coisas da
vida. Aqueles mesmos dias foram de calma, de perfeita tranqui lidade de espírito, de suave alegria para Nacib.
Talvez os mais felizes da sua existência.
Jamais dormira tão sereno a sua sesta,
acordando risonho com a voz de Tonico, infalível após o almoço para um dedo de
amargo a ajudar a digestão, um dedo de prosa antes de abrir o cartório. Pouco
depois juntava-se a eles João Fulgêncio, passando para a Papelaria.
Falavam de Ilhéus e do mundo, o livreiro
era entendido em assuntos internacionais, Tonico sabia tudo quanto se referia
ao mundo da cidade.
Três meses e dezoito dias tardara o
engenheiro a chegar, fazia exactamente o mesmo tempo que contratara Gabriela.
Naquele dia o coronel Jesuíno Mendonça matara D. Sinhàzinha e o dentista
Osmundo. Mas só no outro dia tivera Nacib a certeza de que ela sabia cozinhar.
Na espreguiçadeira, o jornal abandonado
no chão, o charuto a apagar-se, Nacib sorri, recordando… Três meses e dezoito
dias a comer comida temperada por ela, não havia em todo Ilhéus cozinheira
que se lhe pudesse comparar. Três meses e dezasseis dias dormindo com ela, a
partir da segunda noite, quando o luar lambia-lhe a perna e no escuro do quarto
saltava um seio da rota combinação…
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