sábado, junho 09, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 120



Nunca fizera negócio mais vantajoso como ao contratar Gabriela no «mercado de escravos». Quem diria ser ela tão competente cozinheira, quem diria esconder-se sob trapos sujos tanta graça e formosura, corpo tão quente, braços de carinho, perfume de cravo a tontear?...

Naquele dia da chegada do engenheiro, a curiosidade tomando conta do bar, apresentações e cumprimentos, elogios a granel – é um nadador de primeira – quando todos os almoços se atrasaram em Ilhéus, Nacib fizera dia por dia a conta do tempo decorrido desde o anúncio da sua vinda. Gabriela voltava para casa após pedir:

 - Deixa eu ir no cinema hoje? Pra acompanhar D. Arminda…

Tirara da caixa uma nota de cinco mil réis, generoso:

 - Pague a entrada dela…

Vendo-a partir esfogueada e risonha (ele não parara de beliscá-la e tocá-la mesmo enquanto comia) contara os dias: três meses e dezoito dias exactamente. De aperreação, cochichos, agitação, dúvida e esperança para Mundinho e seus amigos, para o coronel Ramiro Bastos e seus correligionários.

Com descomposturas nos jornais, conversas segregadas, apostas, bate – bocas, surdas ameaças, um clima de tensão em aumento. Havia dias em que o bar parecia uma caldeira prestes a explodir.

Quando o Capitão e Tonico mal se falavam, o coronel Amâncio Leal e o coronel Ribeirinho apenas se cumprimentavam.

É para ver-se como são as coisas da vida. Aqueles mesmos dias foram de calma, de perfeita tranquilidade de espírito, de suave alegria para Nacib. Talvez os mais felizes da sua existência.

Jamais dormira tão sereno a sua sesta, acordando risonho com a voz de Tonico, infalível após o almoço para um dedo de amargo a ajudar a digestão, um dedo de prosa antes de abrir o cartório. Pouco depois juntava-se a eles João Fulgêncio, passando para a Papelaria.

Falavam de Ilhéus e do mundo, o livreiro era entendido em assuntos internacionais, Tonico sabia tudo quanto se referia ao mundo da cidade.

Três meses e dezoito dias tardara o engenheiro a chegar, fazia exactamente o mesmo tempo que contratara Gabriela. Naquele dia o coronel Jesuíno Mendonça matara D. Sinhàzinha e o dentista Osmundo. Mas só no outro dia tivera Nacib a certeza de que ela sabia cozinhar.

Na espreguiçadeira, o jornal abandonado no chão, o charuto a apagar-se, Nacib sorri, recordando… Três meses e dezoito dias a comer comida temperada por ela, não havia em todo Ilhéus cozinheira que se lhe pudesse comparar. Três meses e dezasseis dias dormindo com ela, a partir da segunda noite, quando o luar lambia-lhe a perna e no escuro do quarto saltava um seio da rota combinação…
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