quinta-feira, julho 26, 2012


GABRIELA
CRAVO
 E
CANELA

Episódio Nº 159


Antigamente para governar bastava mandar, cumprir compromissos com o governo. Hoje não basta. Vosmicê cumpre com o Governador, é seu amigo, por isso não fica mais respeitado. O povo não quer saber. Quer governo que atenda suas precisões. Porque seu Mundinho tá dividindo, tem tanta gente com ele?

 - Porquê? Porque ele tá comprando gente, oferecendo mundos e fundos. E tem sujeitos sem vergonha que não cumprem seus compromissos.

 - Me desculpe, seu coronel, não é isso não. O que é que ele pode oferecer e vosmicê não pode? Lugar em chapa, influência, nomeação, prestígio? Vosmicê pode mais. O que ele oferece e está fazendo é governar de acordo com o tempo.

Governar? Desde quando ganhou eleição?

 - Nem precisa ganhar. Abriu rua na praia, fundou jornal, ajudou a comprar as marinetes, trouxe agência de banco, engenheiro prá barra. Que é isso, não é governar?

Vosmicê manda no Intendente, no Delegado, nas autoridades dos povoados. Mas quem está governando, já faz tempo, é Mundinho Falcão.

Por isso vim aqui: porque uma terra não pode ter dois governos. Saí do meu canto para falar com vosmicê. Se isto continuar vai mal suceder. Já começou: vosmicê mandou tocar fogo na gazeta, quase mataram um homem de vosmicê em Guaraci. Isso foi bom noutro tempo, não podia ser de outra forma. Pra hoje é ruim. Por isso vim lhe falar, bati palmas na porta de sua casa.

 - Pra que coisa vir me dizer?

 - Que só há um jeito de arrumar a situação. Um só, outro eu não vejo.

 - E qual é, me diga? – A voz do coronel soava ríspida: agora pareciam quase dois inimigos face a face.

 - Sou seu amigo, coronel. Voto em vosmicê há vinte anos. Nunca lhe pedi nada, só uma vez reclamei, eu tava com razão. Venho aqui como amigo.

 - E eu lhe agradeço. Pode falar.

 - Só há um jeito, é entrar num acordo.

 - Quem? Eu? Com esse forasteiro? O que é que pensa de mim coronel? Não fiz acordo quando era moço e corria perigo de vida. Sou homem de bem, não é quando tou pra morrer que vou me dobrar. Nem fale nisso.

Mas Tonico intervinha. Aquela ideia de acordo era-lhe grata. Há alguns dias, Mundinho, andara na fazenda de Altino. Certamente partia dele a proposta.

 - Deixe o coronel falar, pai. Ele veio como amigo, o senhor deve ouvir. Aceita ou não, isso é outra coisa.

 - Porque vosmicê não toma a direcção do caso da barra? Não chama Mundinho para o seu partido? Não junta tudo, vosmicê na frente? Ninguém lhe quer mal em Ilhéus, nem o Capitão. Mas se vosmicê continuar como vai, vosmicê vai perder.

Alguma proposta concreta, coronel? – perguntou Tonico.

 - Proposta, não. Com seu Mundinho nem quis falar coisas de política. Apenas lhe disse que eu só via um caminho: um acordo entre os dois.
 (Click na imagem. Não é, mas poderia ser a escultural Gabriela preparando-se para se refrescar nas águas do rio mais próximo...)

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