GABRIELA
CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 143
É a rainha da festa… -
disse-lhe.
Mais se encostou Iracema,
respondendo.
- Pobre de mim… ninguém me olha.
Dª Felícia sorria na
cadeira. Iracema concluiria o curso no Colégio das Freiras no fim do ano, chegava
o tempo de casar.
O coronel Ramiro Bastos
fizera-se representar no acto da tarde por Tonico. O outro filho, Alfredo
estava na Baía, ocupado na Câmara. À noite, no baile, Tonico, acompanhava Dª
Olga, de banhas esmagadas num vestido rosa e juvenil, ridículo!
Com eles viera a sobrinha
mais velha de desmaiados olhos azuis e pele fina de madrepérola. Muito
compenetrado e respeitável, Tonico nem olhava as mulheres, ocupado em fazer
rodopiar aquela montanha de carnes que Deus e o coronel Ramiro lhe haviam dado
por esposa.
Nacib bebia champanhe. Não
para aumentar o consumo da bebida cara e ganhar mais dinheiro como rosnara o
despeitado Plínio Araçá. Para esquecer padecimentos, afugentar o medo que não o
largava mais, temores a persegui-lo dia e noite.
O cerco em derredor de
Gabriela crescia e se apertava. Mandavam-lhe recados, propostas, bilhetinhos de
amor. Ofereciam mirabolantes salários à incomparável cozinheira: casa posta,
luxo nas lojas, à rapariga incomparável.
Ainda há poucos dias, quando
Nacib se sentia menos triste devido àquela eleição de quarto-secretário,
sucedera um caso a lhe mostrar até onde ia a audácia dessa gente.
A esposa de mister Grant,
director da Estrada de Ferro não se pejara de ir a casa de Nacib fazer
propostas a Gabriela. Era esse Grant um inglês idoso, magro e calado, habitando
Ilhéus desde 1910. Conheciam-no e tratavam-no simplesmente por Mister. A
esposa, uma gringa alta e loiríssima de modos livres e um tanto masculinos não
suportava Ilhéus, vivia na Baía há vários anos.
Dos seus tempos na cidade
ficara a lembrança da sua figura então extremamente jovem e uma quadra de ténis
que fizera construir nuns terrenos da Estrada invadida pelo capim após a sua
partida. Na Baía dava grandes jantares na sua casa na Barra Avenida, corria de automóvel,
fumava cigarros, constava que recebia os amantes em plena luz do dia.
O Mister não saía de Ihéus
adorando a boa cachaça ali fabricada, jogando pocker de dados, embriagando-se
indefectivelmente todos os sábados no Pinga de Ouro, indo todos os Domingos
caçar nas redondezas. Vivia numa bela casa cercada de jardins, sozinho com uma
índia que dele tivera um filho.
Quando a esposa aparecia em
Ilhéus, duas, três vezes por ano trazia presentes para a índia grave e
silenciosa como um ídolo. E apenas o menino completara seis anos, a inglesa o
levara consigo para a Baía onde o educava como se fosse seu filho.
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