sexta-feira, julho 06, 2012


GABRIELA
CRAVO
 E
 CANELA

Episódio Nº 142

À noite foi o baile, com o bufete fornecido por ele (Plínio Araçá andou espalhando ter-se Nacib aproveitado do cargo para cobrar um dinheirão, mentira injusta) variado e gostoso.

Havia bebidas a escolher, à excepção de cachaça. Nas cadeiras encostadas às paredes, num reboliço de risos, as moças esperavam ser tiradas para dançar. Nas salas do segundo andar, abertas e iluminadas, senhoras e cavalheiros mastigavam os doces e salgados de Gabriela, conversando, diziam que nem na Baía se via uma festa assim tão distinta.

A orquestra do Bataclan atacava valsas, tangos, fox-trots, polcas militares. Naquela noite não se dançava no cabaré. Mas também não estavam na Associação todos os coronéis, comerciantes, exportadores, rapazes do comércio, médicos e advogados? O cabaré dormitava deserto, uma ou outra mulher numa espera inútil.

Velhas e jovens cochichavam na sala de baile, detalhando vestidos, jóias, enfeites, maliciando namoros, prevendo noivados. No mais belo vestido de noite, mandado vir da Baía, Malvina era o vivo e comentado escândalo.

Ninguém mais desconhecia na cidade a condição de homem casado do engenheiro da barra, separado da mulher. Louca incurável internada no auspício, é bem verdade. Mas isso que importava, era um homem sem direito a olhar para moça solteira, casadoira.

Que tinha ele para lhe oferecer para além da desonra, no mínimo deixá-la falada, na boca do mundo, sem nunca mais conseguir casamento?

No entanto, não se largavam, o par mais constante do baile, sem perder uma valsa, uma polca, um fox-trot. Rómulo dançava o tango argentino ainda melhor que o finado Osmundo.

Malvina, as faces rosadas, os olho0s profundos, parecia envolta num sonho, leve, quase a voar nos braços atléticos do engenheiro. Um cochicho corria pelas cadeiras encostadas nas paredes, subia as escadas, espalhava-se nas salas.

Dª Felícia, mãe de Iracema, a fogosa morena dos namoros do portão, proibia a filha de andar com Malvina. O professor Josué misturava bebidas, falava alto, representava indiferença e alegria.

Os sons da música iam morrer na praça, entravam pela janela de Glória deitada com o coronel Coriolano, que viera assistir ao acto da tarde. Bailes não frequentava, era coisa para moços. Seu baile era aquele na cama de glória.

Mundinho Falcão descia para a sala de dança. Dª Felícia beliscava Iracema, segredava:

 - Seu Mundinho está olhando para você. Vem tirar para dançar.

Quase empurrava a filha nos braços do exportador. Que partido melhor em todo o Ilhéus. Exportador de cacau, milionário, chefe político e moço solteiro. Sim, solteiro, capaz de casar.

 - Permite-me a honra? – perguntava Mundinho.

 - Com prazer… - soerguia-se Dª Felícia num cumprimento.

Iracema, de pujante carnação, langorosa e fingida, encostava-se nele. Mundinho sentia os seios da moça, a coxa a tocá-lo, apertou-a de manso.

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