CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 142
À noite foi o baile, com o bufete
fornecido por ele (Plínio Araçá andou espalhando ter-se Nacib aproveitado do
cargo para cobrar um dinheirão, mentira injusta) variado e gostoso.
Havia bebidas a escolher, à excepção de
cachaça. Nas cadeiras encostadas às paredes, num reboliço de risos, as moças
esperavam ser tiradas para dançar. Nas salas do segundo andar, abertas e
iluminadas, senhoras e cavalheiros mastigavam os doces e salgados de Gabriela,
conversando, diziam que nem na Baía se via uma festa assim tão distinta.
A orquestra do Bataclan atacava valsas,
tangos, fox-trots, polcas militares. Naquela noite não se dançava no cabaré.
Mas também não estavam na Associação todos os coronéis, comerciantes,
exportadores, rapazes do comércio, médicos e advogados? O cabaré dormitava
deserto, uma ou outra mulher numa espera inútil.
Velhas e jovens cochichavam na sala de
baile, detalhando vestidos, jóias, enfeites, maliciando namoros, prevendo
noivados. No mais belo vestido de noite, mandado vir da Baía, Malvina era o
vivo e comentado escândalo.
Ninguém mais desconhecia na cidade a
condição de homem casado do engenheiro da barra, separado da mulher. Louca
incurável internada no auspício, é bem verdade. Mas isso que importava, era um
homem sem direito a olhar para moça solteira, casadoira.
Que tinha ele para lhe oferecer para
além da desonra, no mínimo deixá-la falada, na boca do mundo, sem nunca mais
conseguir casamento?
No entanto, não se largavam, o par mais
constante do baile, sem perder uma valsa, uma polca, um fox-trot. Rómulo
dançava o tango argentino ainda melhor que o finado Osmundo.
Malvina, as faces rosadas, os olho0s
profundos, parecia envolta num sonho, leve, quase a voar nos braços atléticos
do engenheiro. Um cochicho corria pelas cadeiras encostadas nas paredes, subia
as escadas, espalhava-se nas salas.
Dª Felícia, mãe de Iracema, a fogosa
morena dos namoros do portão, proibia a filha de andar com Malvina. O professor
Josué misturava bebidas, falava alto, representava indiferença e alegria.
Os sons da música iam morrer na praça,
entravam pela janela de Glória deitada com o coronel Coriolano, que viera
assistir ao acto da tarde. Bailes não frequentava, era coisa para moços. Seu
baile era aquele na cama de glória.
Mundinho Falcão descia para a sala de
dança. Dª Felícia beliscava Iracema, segredava:
-
Seu Mundinho está olhando para você. Vem tirar para dançar.
Quase empurrava a filha nos braços do
exportador. Que partido melhor em todo o Ilhéus. Exportador de cacau,
milionário, chefe político e moço solteiro. Sim, solteiro, capaz de casar.
-
Permite-me a honra? – perguntava Mundinho.
-
Com prazer… - soerguia-se Dª Felícia num cumprimento.
Iracema, de pujante carnação, langorosa
e fingida, encostava-se nele. Mundinho sentia os seios da moça, a coxa a
tocá-lo, apertou-a de manso.
<< Home