CRAVO
E
CANELA
Episódio Nº 154
Estava sentida, aquela história das idas
ao bar. Porque fazê-la sofrer, não lhe dizer a verdade?
-
Ninguém reclamou das tuas idas ao bar. Sou eu que não quero. Vivo triste é por
isso. Todo o mundo te fala, dizem besteira, pegam tua mão, só faltam te agarrar
ali mesmo, te derrubar no chão…
-
Ela riu achando engraçado:
-
Importa não… Não ligo para eles…
-
Não liga mesmo?
Gabriela o puxou para si, mergulhando-o
nos seios, Nacib murmurou: «Bié…» E em sua língua de amor, que era o árabe, lhe
disse a tomá-la: «De hoje em diante és Bié e essa é tua cama, aqui dormirás. Cozinheira não és apesar de
cozinhares. És a mulher desta casa, o raio de sol, o canto dos pássaros. Te
chamas Bié…»
-
Bié é nome de gringa? Me chame Bié, fale mais nessa língua… Gosto de ouvir.
Quando Nacib partiu, ela sentou-se ante
a gaiola. Seu Nacib era bom, pensava ela, tinha ciúmes. Riu, enfiando o dedo
por entre as grades, o pássaro assustado a fugir.
Tinha ciúmes, que engraçado… Ela não tinha,
se ele tivesse vontade podia ir com outra. No princípio fora assim, ela sabia.
Deitava com ela e as demais. Não se importava. Podia ir com outra. Não pra
ficar, só para dormir. Seu Nacib tinha ciúmes, era engraçado.
Que pedaço tirava se Josué lhe tocava na
mão? Se seu Tonico, beleza de moço! Tão sério na vista de seu Nacib, nas suas
costas tentava beijar-lhe o cangote? Se seu Epaminondas pedia um encontro, seu
Ari lhe dava bombons, pegava em seu queixo?
Com todos eles dormia cada noite, com
eles e com os de antes também, menos seu tio, nos braços de seu Nacib. Ora com
um, ora com outro, as mais das vezes com o menino Bebinho e com seu Tonico. Era
tão bom, bastava pensar.
Tão bom ir ao bar, passar entre os
homens. A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio.
Mastigar as goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar,
cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro sonhar.
Bié gostava do nome. Seu Nacib, tão
grande, quem ia dizer? Mesmo na hora, falava língua de gringo, tinha ciúmes…
que engraçado! Não queria ofendê-lo, era homem tão bom! Tomaria cuidado, não
queria magoá-lo. Só que não poderia ficar sem sair de casa, sem ir à janela,
sem andar na rua. De boca fechada, de riso apagado. Sem ouvir voz de homem, a
respiração ofegante, o clarão de seus olhos. «Peça não, seu Nacib, não posso
fazer.»
O pássaro se batia contra as grades, há
quantos dias estaria preso? Muitos não eram com certeza, não dera tempo de
acostumar-se. Quem se acostuma com viver preso?
Gostava dos bichos, tomava-lhes amizade.
Gatos, cachorros, mesmo galinhas. Tivera um papagaio na roça, sabia falar.
Morrera de fome, antes do tio.
(Click na imagem de seu Nacib, agora com a Bié... a paixão e o ciúme envenenam a relação. Gabriela é uma mulher «superior», como os diamantes antes de lapidados, não se conseguem ver em todo o seu esplendor...)
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