segunda-feira, agosto 27, 2012


GABRIELA
CRAVO
E
CANELA

Episódio Nº 177

Tinham vindo fazendeiros de toda de toda a região, Aristóteles Pires, Intendente de Itabuna. Era uma demonstração de força. A continuar pelo dia afora, as visitas sucedendo-se na casa em festa, aberta a sala das cadeiras de alto espaldar.

O coronel Amâncio mandava descer cerveja nos bares, anunciava a vitória eleitoral fosse a que preço fosse, custasse o que custasse. Mesmo alguns oposicionistas foram levar os parabéns a Ramiro Bastos, entre eles o Doutor. O coronel os recebia de pé, querendo exibir-lhes não só o seu prestígio, mas também a sua saúde de ferro.

A verdade, porém, é que nos últimos tempos, quebrara muito. Antes parecia um homem de avançada idade mas forte e rijo, hoje era um ancião de mãos a tremer.

Mundinho Falcão não fora à missa nem lhe levara pessoalmente o seu abraço. Mandara, porém, um grande ramalhete de flores para Jerusa com um cartão onde escrevera: “Peço-lhe, minha jovem amiga, transmitir a seu digno avô meus votos de felicidade. Em campo oposto ao dele sou, no entanto, um seu admirador.” Foi um sucesso. As moças todas de Ilhéus ficaram excitadíssimas. Aquilo lhes parecia o supra sumo do chique, coisa nunca vista em terra onde oposição política significava inimizade mortal.

Além disso, que superioridade, que requinte! O próprio coronel Ramiro Bastos, ao ler o cartão e olhar as flores, comentou:

 - É sabido, esse senhor Mundinho! Se me manda o abraço por minha neta, não posso deixar de receber…

Por um escasso espaço de tempo chegou a pensar-se num acordo. Tonico, de cartão em punho, sentia novas esperanças nascendo. Mas tudo ficara naquilo, a disputa cada vez mais acirrada. Jerusa esperou que Mundinho viesse ao baile com que se encerravam as festas, no salão nobre da Intendência. Não se animara a convidá-lo, mas insinuara ao Doutor que a presença de Mundinho seria bem recebida.

O exportador não veio. Chegara-lhe mulher nova da Baía, festejava em casa.

Tudo aquilo se comentava no bar, de tudo aquilo Nacib participava. O serviço de doces e salgados para o baile da Intendência lhe fora encomendado, a menina Jerusa falara mesmo com Gabriela para explicar-lhe o que desejava E ao voltar dissera a Nacib.

 - Sua cozinheira é uma beleza, seu Nacib, e tão simpática… - frase que a fez sagrada para o árabe.

As bebidas foram compradas a Plínio Araçá, o velho Ramiro não queria desagradar a ninguém.

Comentava e participava, porém, sem entusiasmo. Nenhum acontecimento da cidade, sucesso político ou social, nem mesmo a marinete que virara na estrada ferindo quatro pessoas – uma das quais morrera – nada podia arrancá-lo de seu problema. A ideia de casar-se com Gabriela, lançada certa vez por Tonico, displicentemente, fizera seu caminho. Não via outra solução. Ele a amava, era certo. De um amor sem limites, precisando dela como água, da comida, da cama para dormir. E o bar também, não podia passar sem ela.

Toda essa prosperidade – o dinheiro a juntar-se no banco, a roça de cacau a aproximar-se – viria a baixo se ela se fosse.
( Click na imagem da deusa da floresta tomando banho em camisa de noite...)

Site Meter